Arquivos de Neuro-Psiquiatria (Sep 1985)

Tratamento da doença de Meige com droga agonista de receptores GABA

  • Luiz Augusto Franco de Andrade,
  • Paulo Henrique Ferreira Bertolucci

DOI
https://doi.org/10.1590/S0004-282X1985000300004
Journal volume & issue
Vol. 43, no. 3
pp. 260 – 266

Abstract

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A doença de Meige é distúrbio de movimento que consiste no aparecimento espontâneo de blefarospasmo associado a movimentos distônicos de musculatura orofacial. Associadamene podem ser encontrados torcicolo espasmódico, disfonia espástica e distonia de extremidades. Várias hipóteses foram formuladas para explicar esse distúrbio, tendo em vista a resposta a drogas com ação conhecida nos sistemas de neurotransmissores do cérebro. Algumas evidências apontam para um estado de preponderância dopaminérgica e, nesse sentido, justifica-se a estimulação da atividade GABA, sabendo-se que esse neurotrans-missor age sobre uma das alças de controle da produção de dopamina na substância negra. Por essa razão investigamos a ação de um agonista GABA, o baclofen, sobre a doença de Meige. Foram incluídos no protocolo 5 pacientes, 4 mulheres e um homem, com idade variando entre 50 e 63 anos e duração da doença variando entre 4 meses e 18 anos. Todos apresentavam blefaros-pasmo-distonia orofacial e, além disso três apresentavam disfonia espástica e um distonia de extremidades. A droga era iniciada em dose de 20mg/dia, aumentada em lOmg a cada três dias até ser obtida resposta ou surgirem efeitos colaterais. Um dos pacientes apresentou melhora marcada do blefaros-pasmo-distonia orofacial e outro melhora moderada dos mesmos sintomas, em avaliação 30 dias após estabilização da dose. Não houve melhora da disfonia espástica e ocorreu melhora moderada da distonia de extremidades. Não podemos afirmar que a melhora observada ao fim de um mês se mantenha, ou mesmo que melhora mais significativa fosse observada em avaliação feita mais tardiamente. Concluimos que o baclofen pode ser útil, pelo menos por algum tempo, na doença de Meige.