Estudos Avançados (Aug 1996)

Freud e a fisiologia

  • Erasmo Garcia Mendes

DOI
https://doi.org/10.1590/S0103-40141996000200004
Journal volume & issue
Vol. 10, no. 27
pp. 79 – 93

Abstract

Read online

A experiência de Freud no início de sua carreira em Viena, no campo da ciência empírica, é revista e admitida como ainda relevante nos anos em que a psicanálise foi desenvolvida. Freud foi sucessivamente zoólogo (com Claus), fisiologista (com Brücke) e psicólogo (com Meynert) antes de criar a psicanálise. Por isso, teria pressentido que o avanço das neurociências e da terapia por drogas poderia conflitar com a sua terapia pela fala. A compatibilidade entre a psicanálise e as neurociências, tal como defendida por Mezan, é reconhecida em termos dos objetivos específicos de cada uma. Exemplos do empenho em explicar mecanicamente a mente são evocados, bem como a recente revalorização da concepção do inconsciente cognitivo. A posição de Freud com relação à filosofia é brevemente abordada, com menção de sua visão quanto ao positivismo. Frustrações de Freud - as chances perdidas de conceber o neurônio e de indicar o uso da cocaina - são recordadas. Em que pese a teorização implicada na psico-análise, Freud teria se mantido residualmente um cientista natural, como se proclamou um dia.Freud's experience in the field of empirical science, at the beginning of his carrer in Vienna, is reviewed and admitted as still relevant in the years in which psychoanalysis was developped. Freud was successively zoologist (with Claus), physiologist (with Brücke) and psychologist (with Meynert) before creating his talk therapy. This would have enabled him to forecast that the advances in neurosciences and drug therapy might conflict with psychoanalysis. The compatibility between neurosciences and psychoanalysis, as defended by Mezan, is emphasized, in terms of each having its own purpose. Exemples of efforts to explain mechanistically the mind are evoked, as well as the recent revival of the concept of cognitive unconscious. Freud's position in relation to philosophy is briefly approached, as well as his view towards positivism. His frustrations - the lost chances of conceiving the neurone and prescribing cocain - are remembered. In spite of the theorization implicated in psychoanalysis, Freud remained residually a natural scientist, as he once proclaimed himself.