Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

AVALIAÇÃO DE NETS (NEUTROPHIL EXTRACELULAR TRAPS) EM PACIENTES COM FORMAS GRAVES DE COVID19 QUE RECEBERAM TRANSFUSÃO DE PLASMA CONVALESCENTE

  • APH Yokoyama,
  • CB Bub,
  • APF Dametto,
  • LD Santos,
  • TH Costa,
  • AM Sakashita,
  • BMM Fonseca,
  • ANF Cipolletta,
  • FLA Orsi,
  • JM Kutner

Journal volume & issue
Vol. 43
pp. S521 – S522

Abstract

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Introdução: Sabe-se que a infecção por SARSCOV2 é notavelmente marcada por fenômenos inflamatórios exacerbados e envolvimento tanto da imunidade inata quanto adaptativa, por meio de respostas imunes complexas. Um dos mecanismos descritos na fisiopatogenia da COVID19 é a formação de NETs (neutrophil extracelullar traps), redes extracelulares de neutrófilos, responsáveis em parte pela injúria tecidual e microtrombos que acometem os pacientes infectados com formas graves de COVID19. A transfusão de plasma convalescente tem sido utilizada como terapêutica alternativa no tratamento da COVID19. Entende-se que o benefício desta terapêutica seria baseado na presença de anticorpos neutralizantes, que seriam capazes de bloquear a progressão da infecção viral. O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto na formação de marcadores de NETs em pacientes com formas graves de COVID 19 que receberam transfusão de plasma convalescente. Materiais e métodos: Foram avaliados 55 pacientes com pneumonia grave por COVID19 de acordo com critérios da Organização Mundial de Saúde, admitidos para tratamento em Unidades de Terapia intensiva em um hospital terciário em São Paulo-SP. Foram coletadas amostras dos pacientes na admissão do estudo (D0= dia da transfusão de plasma convalescente), D5 e na alta hospitalar. Foram mensurados os marcadores de NETs (H3 citrulinado por ELISA (clone 11D3, ELISA, Cayman) e DNA livre pela técnica de PicoGreen (dsDNAAssay Kit (ThermoFisherScientific, EUA) no D0, D5 e alta dos pacientes. As transfusões de plasma convalescente ocorreram entre os dias D0 e D2, em doses de 300 a 600 ml e foram transfundidos plasmas com títulos de anticorpos neutralizantes (NAbsT) superiores a 160, mensurados pela técnica de CPE-VNT (Cytopathic effect-based virus neutralization test CPE-VNT -SARS-CoV-2 GenBank MT126808.1). Foram também mensurados os títulos de anticorpos neutralizantes dos pacientes (NabsP)antes da transfusão de plasma no D0. Os testes realizados para verificar possíveis associações entre títulos de anticorpos transfundidos, características dos pacientes e variação dos marcadores de NETs no D0 e D5 foram correlações de Spearman. Resultados: Verificamos um aumento nos níveis de H3 citrulinado no D0 para o D5 e posterior queda do D5 para a alta, de maneira estatisticamente significativa (p = 0,025). O mesmo ocorreu com os níveis de DNA livre, porém sem significância estatística (p = 0,065). Ao analisar os fatores envolvidos na expressão dos marcadores de NETose do D0 para o D5, não se estabeleceu nenhuma associação entre níveis de anticorpos neutralizantes transfundidos (NabsT) (p=0,714) nem níveis basais de anticorpos produzidos pelos próprios pacientes (NabsP) antes da transfusão do plasma convalescente. Ainda, não encontramos quaisquer associações entre demais variáveis analisadas (idade, peso, escore SOFA Severity Organ Failure Assessment, sexo, presença de comorbidades e início de sintomas até a transfusão) e variação de marcadores de NETose nos pacientes incluídos no estudo. Conclusão e discussão: Nesta análise, a transfusão de plasma convalescente não teve nenhum impacto nos marcadores de NETose de pacientes com formas graves de COVID que receberam transfusão de plasma convalescente. Não se observou nenhuma associação entre anticorpos neutralizantes transfundidos e expressão de NETs entre D0 e D5. Neste estudo, a expressão de NETs durante o curso da doença variou de maneira independente de todas as variáveis estudadas.