Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (Dec 2023)

Avaliação da desprescrição nos cuidados de saúde primários, sob a perspetiva dos médicos

  • Mariana B. Oliveira,
  • Catarina Campos,
  • Joana Lascasas,
  • Vera Ribeiro da Silva

DOI
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v39i6.13760
Journal volume & issue
Vol. 39, no. 6

Abstract

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Introdução: A desprescrição terapêutica consiste na identificação e proposta de descontinuação de fármacos cujos danos superam os benefícios, sendo esta complexa gestão geralmente atribuída ao médico de família (MF). Objetivos: Determinar a autoperceção dos MF quanto às suas práticas de desprescrição, bem como as barreiras e fatores facilitadores identificados pelos mesmos. Como objetivo secundário pretendeu-se a sensibilização dos MF para a desprescrição terapêutica. Método: Estudo observacional e descritivo, no qual foi aplicado um questionário a internos de 3º e 4º anos e MF num Agrupamento de Centros de Saúde da região norte de Portugal. Foi aprovado pela Comissão de Ética e a análise estatística realizada no Microsoft Excel®. Resultados: Obtiveram-se 63 respostas, sendo 68,3% mulheres e a idade média 42,8 anos. Dos inquiridos, 81% eram especialistas e 57,1% e 14,3% tinham formação em cuidados paliativos e geriatria, respetivamente. Sobre a desprescrição, 98% observavam frequentemente doentes com multimorbilidade e 97% com polimedicação. No entanto, 49,2% da amostra referiu aplicar a desprescrição apenas ocasionalmente. Os fármacos mais frequentemente desprescritos foram anti-inflamatórios não esteroides, estatinas e bifosfonatos. As características do utente consideradas muito importantes para a desprescrição foram: qualidade (79,4%) e esperança de vida (71,4%), deterioração cognitiva (60%) e dependência física (49,2%). Os riscos (65,1%) e benefícios do fármaco (52,4%) e a existência de guidelines (46%) foram considerados os fatores (alheios ao doente) mais importantes para a prática da desprescrição. A barreira mais frequentemente observada foi o tempo limitado para revisão terapêutica (41,3%), enquanto a má adesão terapêutica foi o fator facilitador reconhecido ocasionalmente pela maioria (69,8%). Conclusão: Doentes com critérios de desprescrição são frequentemente reconhecidos pelos MF, escasseando ainda alguma proatividade nesta prática. A existência de guidelines foi considerada um fator muito importante e o tempo limitado uma barreira frequente. Assim, criar linhas orientadoras e consultas específicas poderão ser estratégias de melhoria.

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