CSOnline (May 2016)

A COR NEGRA NA “AQUARELA”: ALGUMAS REFLEXÕES RACIAIS BRASILEIRAS DO INÍCIO DOS ANOS 1960

  • Janine Neves Oliveira

Journal volume & issue
no. 19

Abstract

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Este trabalho pretende analisar a questão racial brasileira, de início da década de 1960, a partir do “quadro musical do negro” inserido no espetáculo “Aquarela do Brasil”, de 1964, idealizado e realizado em Juiz de Fora, município de Minas Gerais. O quadro foi formado por um coral de negros e negras, além de percussionistas, que cantaram a música "Escravidão e Liberdade", cujo mote era a história dos escravos brasileiros, desde a travessia do Atlântico, passando pelo trabalho escravo, até a fuga para o Quilombo dos Palmares. Partindo do pressuposto de que os fenômenos culturais dependem dos contextos em que se encontram inseridos, busca-se, por meio da ilustração da peça teatral, compreender o “paradigma racial” nesse período, tomando como fio condutor analítico a abordagem sócio-histórica. Resgatando os discursos e estratégias instituídos pelas associações negras brasileiras disponíveis à época (em especial, os da Frente Negra Brasileira e do Teatro Experimental do Negro) e as produções acadêmicas e literárias sobre a temática racial e cultural do período, lança-se mão da reflexão acerca das possibilidades contextualizadas de identidade e valorização raciais. Por fim, pretende-se enlaçar o arremate entre o contexto que situava o paradigma racial do início da década de 1960 e a apresentação e a representação do quadro do negro da peça “Aquarela do Brasil”, no intuito de refletir acerca das questões raciais que permearam um período da história brasileira, procurando fomentar e enriquecer o debate e as reflexões sobre a questão, tomando como ponto de partida o caso ora destacado.