Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA COMO EVOLUÇÃO DE MIELOFIBROSE PRIMÁRIA – RELATO DE CASO

  • AK Lucano,
  • IA Martins,
  • PM Jesus,
  • BMR Santos,
  • MPM Pavia,
  • JNM Sasaki,
  • DR Spada,
  • JA Rena,
  • JR Assis,
  • MG Cliquet

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S195 – S196

Abstract

Read online

Introdução: A Mielofibrose Primária (MFP) é uma doença mieloproliferativa caracterizada pela substituição do tecido hematopoiético por fibras de reticulina e colágeno, podendo estar associada a mutações do gene JAK2. As neoplasias mieloproliferativas podem evoluir para Leucemia Mieloide Aguda (LMA) em aproximadamente 5-10% dos casos, porém outros tipos de desfechos também podem ocorrer, como a evolução linfoide. A transformação de mielofibrose para Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) é rara, tendo sido reportada em poucos casos na literatura. Objetivo: Relatar o caso de uma paciente com MFP em tratamento com Talidomida e Hidroxiureia desde 2019 que evoluiu para LLA após dois anos do diagnóstico, discutindo a possível correlação entre as duas doenças. Material e método: Estudo descritivo baseado no prontuário da paciente. Relato de caso: Mulher de 69 anos foi encaminhada ao serviço em 06/19 queixando-se de fraqueza, sudorese moderada e perda ponderal de 5 kg no último ano. Hemograma com Hb 11,1 g/dL Leucócitos 1.700/mm3 e 935 segmentados/mm3 e P 245.000/mm3. Ao exame, hepatoesplenomegalia. Realizada biópsia de medula que mostrou hipercelularidade compatível com neoplasia mieloproliferativa e fibrose de grau III, JAK2 negativo. Classificada como risco intermediário na escala Dynamic International Prognostic Scoring System (DIPPS). Foi iniciado tratamento com talidomida 50 mg/dia e hidroxiureia 500 mg/dia para redução do baço. Paciente manteve seguimento e tratamento sem complicações até 11/22 quando teve piora do quadro inicial apresentando petéquias e fraqueza extrema associadas a pancitopenia e aumento de blastos. Após a realização de mielograma, evidenciou-se a presença de 31% de blastos linfoides CD34+,CD19+,CD10++,CD20+,CD22+,CD24+, CD38+,Tdt+ e cariótipo com t(2;5) [18] e del(6) firmando o diagnóstico de LLA de células B. Iniciou tratamento de indução com vincristina 1 mg e dexametasona 20 mg semanal, durante quatro semanas de acordo com o protocolo PETHEMA. Apresentou boa resposta ao tratamento iniciando manutenção com purinetol 50 mg/noite e dexametasona 20 mg/semana. Em 06/23, seguia estável em tratamento, quando apresentou quadro infeccioso, retornando ao serviço com febre e quadro séptico que levou ao falecimento após duas semanas. Discussão: A patogênese da transformação da MF em LLA ainda não é bem esclarecida, mas a literatura sugere que as mutações encontradas em pacientes com fibrose medular acometem tanto a linhagem mieloide quanto a linfoide, principalmente no desenvolvimento das células B, o que permitiria a transformação em LMA ou LLA. Como a MF apresenta um fenótipo mieloproliferativo a evolução para LMA é mais frequente. Visto a raridade da apresentação linfoide associada a MF, os poucos estudos encontrados levantam a hipótese de que subgrupos distintos da LLA podem estimular uma reação fibrótica na medula óssea, tornando a MF tanto um diagnóstico diferencial quanto uma doença concomitante, uma vez que a fibrose medular pode mascarar o excesso de blastos característicos da LLA. No caso relatado, a fibrose foi diagnosticada em 2019 e muito tempo depois evoluiu para LLA, o que afasta o diagnostico inicial de LLA com fibrose. Conclusão: O presente relato de caso alerta para a possibilidade de evolução da MFP para LLA.