Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (Nov 2024)

Violência obstétrica

  • Janini Cristina Paiz,
  • Alice Steglich Souto,
  • Ana Cláudia Magnus Martins,
  • Sarah Maria dos Santos Ahne,
  • Mônica Baréa,
  • Camila Giugliani

DOI
https://doi.org/10.5712/rbmfc19(46)3852
Journal volume & issue
Vol. 19, no. 46

Abstract

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Introdução: A assistência ao parto é composta de práticas que interferem diretamente no sentimento de segurança, bem-estar e satisfação das mulheres. Procedimentos aplicados sem indicação ou sem consentimento podem provocar danos e interferir na experiência de parto, configurando-se como violência obstétrica. Objetivo: Identificar a prevalência de práticas recomendadas e não recomendadas na assistência ao parto, segundo a Organização Mundial da Saúde, bem como a percepção das mulheres em terem vivenciado desrespeito, maus-tratos ou humilhação no parto. Métodos: Estudo transversal, com 287 mulheres selecionadas aleatoriamente em duas maternidades de Porto Alegre, pública e privada, em 2016. As puérperas responderam a um questionário estruturado, face a face, quatro semanas após o parto, sobre aspectos socioeconômicos, histórico de saúde, experiência de parto (práticas e intervenções) e percepção de ter sofrido desrespeito, maus-tratos ou humilhação pelos profissionais. Resultados: Das intervenções não recomendadas de rotina, o uso de ocitocina foi a mais prevalente (56%), seguido da amniotomia (48,5%) e da episiotomia (37,1%). A manobra de pressão fúndica uterina (Kristeller) foi realizada em 11,3% dos partos; quando estratificado por maternidade, a prevalência foi de 25,7% na privada e 8,2% na pública. A amniotomia ocorreu em 48,5% dos partos, 55,4% daqueles realizados na maternidade pública e 14,7%, na maternidade privada. A taxa geral de cesariana foi de 48,1%, 31,4% na maternidade pública e 82,8% na maternidade privada. A percepção de ter sido desrespeitada, maltratada ou humilhada ocorreu para 12,5% das mulheres entrevistadas, 14,9% na maternidade pública e 7,5% na maternidade privada. Quanto às boas práticas de assistência, o incentivo a ter acompanhante, a oferta de líquidos e alimentos, o incentivo à movimentação durante o trabalho de parto, a percepção de ter sido acolhida na maternidade e o contato pele a pele foram mais frequentes na maternidade pública. Já o sentimento de estar à vontade para fazer perguntas e participar das decisões foi mais frequente na maternidade privada. Conclusões: É frequente a aplicação de práticas não recomendadas de rotina na assistência ao parto em ambas as maternidades. A maternidade pública apresentou maior prevalência de boas práticas em comparação com a privada. A prevalência de práticas não recomendadas é superior à prevalência de ter sofrido desrespeito, humilhação ou maus-tratos no parto, pela percepção das puérperas, o que sugere o não reconhecimento pelas mulheres de situações de violência. Nesse cenário, a atenção pré-natal é um espaço de troca de informações sobre boas práticas e reconhecimento de práticas consideradas como violência obstétrica.

Keywords