Horizontes Antropológicos (Dec 2012)
Como se constrói um artesão: negociações de significado e uma "cara nova" para as "coisas da vovó"
Abstract
O artigo propõe discutir como se forma o chamado "artesanato de design", localizado na confluência entre as práticas do mundo técnico do design e os "saberes e fazeres tradicionais", passados de geração em geração. Partindo da experiência de campo com artesãs de Brasília, procuro desvendar como se forma a noção de que sua produção deve atender a determinados requisitos formais e estéticos para ir ao encontro das expectativas do consumidor e ganhar o mercado. Essa discussão questiona vários "mitos" acerca do trabalho artesanal e põe em relevo as disputas simbólicas que se processam entre artesãs, designers e instituições organizadoras. Abordar o artesanato de Brasília como sendo um campo, com referência à teoria dos campos de Pierre Bourdieu, nos permite identificar os atores sociais envolvidos e os papéis desempenhados por eles. Revela, ademais, os jogos de poder que instituem práticas e conformam esse campo. Associo a abordagem de Bourdieu ao interacionismo simbólico de Georg Simmel e Erving Goffman, guardadas as particularidades de cada autor, ambas compartilhando de uma noção de realidade social construída através da vivência ou experiência dos atores no contexto vivido. Estas são as principais referências que sustentam a análise, somadas a Geertz, que destaca a importância do contexto e da interpretação na antropologia simbólica.This article aims to discuss how it is formed the so called "design artcraft", which comes to life with the convergence of technical practices of designers and the "traditional knowledge" of artisans. This knowledge is said to be passed from generation to generation. Taking into account my fieldwork experience with artisans in Brasília, I try and unveil how emerges the notion that artcraft production should follow formal and aesthetical requirements in order to please the consumers and thus succeed in the market. Some "myths" regarding the artcraft work are put at stake on the paper, which shows how symbolic disputes among artisans, designers and institutions emerge in the field. I chose to approach artcrafts in Brasília as a field, in accordance to the concept of Pierre Bourdieu. By so doing, I was able to identify the most relevant social actors and the roles they play in this specific case. This concept also allows me to reveal the power struggles that institute practices and form this field. I try to link Bourdieu's approach to the symbolic interactionism of Georg Simmel and Erving Goffman. Although these authors have their particularities, both share the common notion of a social constructed reality through the experience of the actors within a specific context. In addition to these references, I also incorporated in my analysis a perspective of Geertz, who emphasizes the importance of the context and interpretation for the symbolic anthropology.
Keywords