Art&Sensorium: Revista Interdisciplinar Internacional de Artes Visuais (Nov 2020)

Arte e Resistência em Tempos de Pandemia: a série de Quadrinhos Confinada, de Leandro Assis e Triscila Oliveira

  • Carolina Brandão Piva,
  • Alice Fátima Martins

DOI
https://doi.org/10.33871/23580437.2020.7.2.250-276
Journal volume & issue
Vol. 7, no. 2

Abstract

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Nossa proposta, neste artigo, é lançar o olhar sobre a série de narrativas gráficas intitulada Confinada, desenvolvida por Leandro Assis e Triscila Oliveira no curso da pandemia de covid-19 e publicada, periodicamente, no Instagram (@leandro_assis_ilustra). Ambientados na cidade do Rio de Janeiro, os episódios da Confinada retratam o "enfrentamento" da covid a partir da experiência de duas mulheres: de um lado, Ju, uma trabalhadora doméstica que não pode se "dar ao luxo" de cumprir as medidas de confinamento, permanecendo em serviço na casa da patroa; e, de outro, Fran Clemente, uma influencer digital em situação de privilégio (social, econômico, racial, e além) que tira proveito do trabalho doméstico e contribui para subalternizá-lo, mesmo durante a pandemia. Amparam nossas formulações os Estudos da Cultura Visual, que possibilitam a abordagem das histórias em quadrinhos como narrativas visuais, ou seja, como espaços de interação social, construção e negociação de subjetividades, no bojo da fabricação e do compartilhamento de imagens. Assumindo que os processos culturais e artí­sticos podem contribuir para deslocalizar olhares normatizados sobre as pessoas e suas formas de participação no mundo, confrontamos as visualidades subalternizantes historicamente construí­das em torno das mulheres negras e pobres, e brutalmente reproduzidas no curso da pandemia, com as formas habituais de ver mulheres em condições de privilégio na sociedade "” em regra, brancas e com poder aquisitivo suficiente para submeter as primeiras à servidão, como acontece na história de Ju e Fran. Interessa-nos discutir, afinal, como a arte que circula no ambiente digital durante a pandemia pode não apenas "entreter" , mas especialmente constituir e fomentar ações transformadoras e libertárias "” de debate, oposição e resistência. As séries gráficas da Confinada representam uma movimentação neste sentido; são narrativas contra-hegemônicas que retratam as violências interseccionais de gênero, raça e classe imiscuí­das nas formas (desiguais) de enfrentamento da pandemia.

Keywords