Estudos Sociedade e Agricultura (Apr 2016)

Desigualdade, agronegócio, agricultura familiar no Brasil

  • Regina Bruno

Journal volume & issue
Vol. 24, no. 1

Abstract

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Este artigo tem por objetivo refletir sobre os mecanismos de dominação simbólica presentes no discurso das elites agroindustriais quando referidos à estrutura social no campo e à representação sobre quem são os agricultores familiares e quais suas aptidões, potencialidades e (im)possibilidades históricas. Procura mostrar que a retórica das elites agroindustriais aciona as carências à agricultura familiar para impor uma seletividade discursiva que impõe uma hierarquização sobre quem é apto ou não a integrar-se produtivamente pelo estabelecimento de um alinhamento de práticas pela interferência na construção de uma identidade própria, suscitando a dificuldade de construção de um espírito crítico e de percepção das diferenças existentes. Argumentos que se reportam aos interesses patronais agroindustriais e alimentam o próprio sistema de dominação. O artigo também procura mostrar que integração e exclusão são faces de um mesmo processo e se complementam na relação que as negam: o agricultor familiar “vocacionado” reafirma a exclusão do agricultor familiar “sem condição”. A promessa de crédito facilitado e de acesso ao mercado para os “empreendedores familiares” aprofunda diferenças com os agricultores familiares voltados para a produção de subsistência. Ser “ordeiro” e “consciente” como atributos da postura competitiva exclui os agricultores familiares mobilizados na luta por direitos e por isso considerados “desordeiros” e “inocentes úteis”.