Argumentos (Apr 2018)
De olhos bem abertos: a ideologia da sociedade industrial segundo Adorno
Abstract
Num de seus últimos textos1, Theodor Adorno (ADORNO e HORKHEIMER, [1968], 1973) constata uma transformação do fenômeno da ideologia com o advento da sociedade totalmente administrada, apontando para a obsolescência da conceituação marxiana clássica e, indiretamente, também para a lukácsiana. Segundo ele, a ideologia não se apresenta mais como o véu que recobre a realidade, ocultando a dominação sob justificativas falsamente universais, mas como a própria realidade congelada numa imagem fixa, dominação tornada transparente e naturalizada como “o jeito que as coisas são”. O objetivo deste artigo é expor como Adorno chega a esta nova conceituação do que é a ideologia, fortemente calcada em seus estudos sobre a propaganda e a personalidade fascistas e sobre o sistema da indústria cultural, entendidos ambos como os principais esquemas organizadores da cultura de massa e responsáveis por uma nova modalidade de reificação da consciência, na qual o que importa é antes a satisfação libidinal proporcionada pela forma específica de relação dos sujeitos com o material ideológico consu- mido do que o conteúdo nele expresso.