Cadernos de Saúde Pública (Oct 2003)

Saberes e práticas de enfermeiros e obstetras: cooperação e conflito na assistência ao parto Cooperation and conflict in childbirth care: representations and practices of nurses and obstetricians

  • Antonia Angulo-Tuesta,
  • Karen Giffin,
  • Andréa de Sousa Gama,
  • Eleonora d'Orsi,
  • Gisele Peixoto Barbosa

DOI
https://doi.org/10.1590/S0102-311X2003000500021
Journal volume & issue
Vol. 19, no. 5
pp. 1425 – 1436

Abstract

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A incorporação crescente de enfermeiros constitui uma das estratégias para melhorar a assistência obstétrica no Brasil, onde o parto é atendido sobretudo por obstetras e em hospitais públicos. Nosso estudo, realizado em duas maternidades do Rio de Janeiro, busca compreender as representações de obstetras e de enfermeiras sobre o trabalho em equipe. Analisa de que forma as dimensões de poder, cooperação e conflito, e autonomia técnica são permeadas por concepções dualistas que influem na organização e qualidade da atenção à parturiente. Os resultados revelam, de um lado, o consenso sobre as vantagens da cooperação profissional para a melhoria da atenção, tendo como premissas a definição de papéis e a valorização de habilidades pessoais. De outro, conflitos vinculados às atribuições profissionais e condutas terapêuticas no parto refletem a percepção dos entrevistados a respeito da autonomia e da hierarquia profissional que relacionam o cuidado obstétrico à "observação objetiva" da parturiente. A magnitude dos conflitos apresenta-se diferenciada segundo o contexto institucional, indicando ser relacionada a limitações advindas de concepções dualistas que separam objetivo/subjetivo, racional/emocional, masculino/feminino, etc.In Brazil, where birthing generally occurs in hospitals and under the care of obstetricians, the incorporation of nurses is a strategy that has been used recently in an attempt to improve obstetric care. This study, conducted in two maternity hospitals in Rio de Janeiro, focuses on representations of obstetricians and nurses regarding teamwork and analyzes how the dimensions of power, cooperation/conflict, and technical autonomy are permeated by dualistic conceptions which influence the quality of health care for women during childbirth. On the one hand, the results show a consensus regarding the advantages of professional cooperation in the improvement of health care, assuming the existence of a clear definition of professional roles. At the same time, conflicts regarding therapeutic conduct during the birth process reflect the professionals' perceptions of autonomy and the influence of professional hierarchies, in which obstetric care is seen to depend on the "objective observation" of the women giving birth. The degree of conflict is differentiated according to the institutional context and related to dualistic conceptions such as objective/subjective, rational/emotional, and male/female.

Keywords