Mundo Amazónico (Jan 2020)

Colonialidade alimentar? Alguns apontamentos para reflexão

  • Vinícius Cosmos Benvegnú,
  • Diana Manrique García

DOI
https://doi.org/10.15446/ma.v11n1.76440
Journal volume & issue
Vol. 11, no. 1
pp. 39 – 56

Abstract

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Alimentar-se é um exercício cotidiano que além da ingestão/incorporação de alimentos ao corpo, desvela a ação humana em sociedade, conectando-se às identidades e às diferenças, a questões de gênero, às práticas sociais e à própria nutrição. Contudo, alimentar-se tem ficado cada vez mais apartado dessa associação, evidenciado pela observação de que determinados alimentos começam a dançar no mercado global alimentar e passam a ocupar um lugar de privilégio. Esse movimento faz parte de um trajeto que visa à homogeneização e estandardização, não somente dos alimentos, mas no limite dos corpos produzidos por essa alimentação. De outra parte muitas comidas “ancestrais” e/ou tradicionais e seus legados de práticas alimentares são extraídos de suas realidades locais ficando longe de sua matriz referencial. Neste trabalho nos questionamos de por que apenas um reduzido número de alimentos (soja, milho e trigo, leite e carnes) são eleitos como a base da dieta humana. Como chegamos a este estágio alimentar? E, é possível falar em termos de uma “colonialidade alimentar” (Herrera Miller, 2016). Iniciamos argumentando que o desenvolvimento e seus dispositivos (o agronegócio, os transgênicos etc.) são empreendimentos que compõe a modernidade/colonialidade da racionalidade ocidental. Um segundo passo é avaliar se conjunto de práticas e conhecimentos envolvidos no agronegócio e a produção de alimentos oriunda das commodities apontam para uma “colonialidade alimentar”. O trabalho será embasado em dados da bibliografia e de alguns dados empíricos decorrentes da pesquisa para tese de doutorado de uma das autoras na Amazônia da Bolívia, onde pode-se observar como neste cenário emergem práticas de re-existências que ficam nas margens do sistema moderno.

Keywords