Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

PERFIL DE CITOCINAS INFLAMATÓRIAS EM INDIVÍDUOS COM ANEMIA FALCIFORME E ÚLCERAS MALEOLARES

  • JVS Rodrigues,
  • MHS Medeiros,
  • MV Diniz,
  • AP Silva,
  • GS Arcanjo,
  • DRC Silva,
  • JM Martins,
  • JVGF Batista,
  • THC Batista,
  • MAC Bezerra

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S101 – S102

Abstract

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Introdução/Objetivos: A anemia falciforme (AF) é uma doença genética caracterizada pela hemólise, vaso-oclusão e inflamação crônica. Esses eventos causam diversas manifestações clínicas como as úlceras maleolares (UM), complicação crônica, recorrente e dolorosa. Estudos apontam que concentrações elevadas de citocinas pró-inflamatórias IL-1β e IL-18 são secretadas pela ativação do inflamassoma, um complexo multiprotéico intracitoplasmático que pode ter um papel importante na fisiopatologia das UMs na AF. Assim, o objetivo foi avaliar os níveis séricos das citocinas inflamatórias IL-1β, IL-6, IL-8, IL-10, IL-12, IL-18 e TNF em pacientes com AF com e sem UMs acompanhados pela fundação HEMOPE. Material e métodos: Amostras de sangue periférico foram coletadas em tubos sem anticoagulante e com EDTA de 76 pacientes com AF, maiores de 18 anos, de ambos os sexos, acompanhados pela fundação HEMOPE. Os dados clínicos e laboratoriais foram obtidos através de prontuários médicos. Quanto ao desenvolvimento da UM, os pacientes foram classificados em 2 (dois) grupos caso e 1 (um) grupo controle. O 1º grupo caso foi composto por 23 pacientes com AF e UM aberta (UMA); e o 2º grupo caso composto por 22 pacientes com UM fechada (UMF). O grupo controle possui 31 pacientes com AF, sem manifestações clínicas e livres de tratamento com hidroxiureia ou transfusões de sangue. A homozigose para HbS (SS) foi confirmada pela técnica de cromatografia líquida de alta precisão (HPLC) em todos os pacientes do estudo. A IL-18 foi dosada por meio de kit comercial de ELISA. As IL-1β, IL-6, IL-8, IL-10, IL-12 e TNF foram determinadas pela técnica de citometria de fluxo com kit comercial de citocinas inflamatórias humanas. Nas análises estatísticas foram aplicados os testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis através do software SPSS e GraphPad Prism 8.0. Resultados: Em relação à coorte, a mediana de idade foi 36 anos (18-60) sendo 50% do sexo feminino. Quanto ao βS haplótipo, 52,7% compreendem ao CAR/CAR e dentre os pacientes com UM, 32,7% faziam uso da hidroxiureia. Nos dados laboratoriais, os níveis de HbF (p = 0,004) e Hb (p = 0,014) foram mais baixos no grupo UMA quando comparados aos de UMF e controles. Os pacientes com UMF apresentaram níveis mais elevados da IL-8 (p = 0,013) comparados aos grupos UMA e controles. Os pacientes com UMA apresentaram níveis mais elevados da IL-10 (p = 0,009) em relação aos grupos UMF e controles. Os níveis das IL-12 (p = 0,0005), IL-18 (p = 0,002) e TNF (p = 0,0009) foram mais elevados nos grupos de UM em relação aos controles. As IL-1β e IL-6 não mostraram associação entre os grupos UMA, UMF e controles. Discussão: Tendo em vista o processo de hemólise crônica, é provável que na AF a ativação do inflamassoma NLRP3 esteja aumentada. Assim, vários estudos tem mostrado níveis elevados de I-1β e IL-18 em pacientes com AF, sugerindo o papel do inflamassoma nos eventos inflamatórios na AF. Além disso, foi apontado que o heme e a hemoglobina livre oxidada agem como DAMPs (Padrão Molecular Associado a Dano) intensificando a inflamação. Conclusão: Os resultados apontam para um perfil inflamatório crônico da doença. Sendo assim, tais estudos são cruciais para compreender melhor a fisiopatologia da AF e das UMs oferecendo novos dados sobre a patogênese desse evento e seu tratamento.