Opus (Aug 2017)
Ambiguidade métrica no Presto da Sonata para violino solo BWV 1001 de J. S. Bach: apontamentos para uma performance historicamente informada
Abstract
A tradição interpretativa do séc. XIX consagrou ao Presto da Sonata I a violino solo senza basso, BWV 1001, de Bach, uma concepção de moto perpetuo que enfatiza a virtuosidade, a igualdade e a velocidade da performance, tendo como parâmetro as peças idiomáticas violinísticas de bravura, como moto perpetuo de Paganini. Esta concepção afeta diretamente a estrutura métrica da peça e o sentido rítmico a ela associada. Apesar de a fórmula de compasso indicar claramente uma métrica ternária (3/8), a tradição interpretativa herdada do séc. XIX concebe este movimento prioritariamente em uma métrica binária (6/16) em uma interminável sequência de semicolcheias. Exceções à métrica binária ocorrem quando as ligaduras originalmente marcadas duas a duas são respeitadas, o que consequentemente gera na narrativa rítmica um sentido polimétrico exógeno ao ideal estético do séc. XVIII. Além disso, o senso de movimento contínuo e igualdade rítmica presentes em um moto perpetuo do séc. XIX nega as preceptivas de um discurso retoricamente regrado que prioriza contrastes produzidos pela articulação de vozes em textura polifônica implícita, oculta na escrita das sequências de semicolcheias. Joel Lester (1999), por sua vez, defende que não há neste movimento preponderância métrica entre binário e ternário, e que qualquer opção de interpretação tomada é incapaz de impor-se à outra. Divergindo desta prerrogativa, acreditamos que, ao se superar uma análise estruturalista e adentrar-se em questões hermenêuticas (o mundo do texto) e fenomenológicas (dança/gesto e tradições rítmico/interpretativas), pode-se trazer nova luz a este ícone do repertório violinístico para construção de uma performance historicamente informada ao violino e arco modernos.
Keywords