Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

LINFOMA GÁSTRICO DOUBLE HIT: RELATO DE CASO

  • MM Paulo,
  • RC Bressa,
  • JAN Bressa

Journal volume & issue
Vol. 43
p. S82

Abstract

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Introdução: O linfoma não-Hodgkin (LNH) é a neoplasia hematológica mais comum, mais frequente em homens e em países subdesenvolvidos. De acordo com estudo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), o LNH corresponde à 80% dos linfomas, destes 50% linfoma difuso de grandes células B (LDGCB), com idade média de 59,6 anos, 33% de acometimento extranodal, 62% de doença avançada, IPI (Índice Internacional de Prognóstico) intermediário alto de 24% e alto de 19% para portadores de LDGCB. Objetivos: Relatar caso de paciente diagnosticada com LNHDGCB double hit gástrico durante investigação ambulatorial de síndrome dispéptica e sua abordagem. Materiais e métodos: Levantamento de prontuário, descrição e discussão de relato de caso clínico, por meio de uma revisão integrativa utilizando bases de dados PUBMED, MEDLINE, BVS e SCIELO. Relato de caso: Feminina, 47 anos, sem comorbidades, com queixa de epigastralgia pós-prandial há 9 meses e perda ponderal de 15 kg no período, sem outros sinais e sintomas. Há 2 meses, em investigação com gastroenterologista foi realizada EDA com biópsia de lesão gástrica associada a painel imuno-histoquímico (BCL6, CD20, CD30, MYC e Ki-67 positivos) compatíveis com LNHDGCB gástrico com alto índice proliferativo, além de tomografia de abdome total com contraste, evidenciando infiltração em lobo hepático esquerdo e hilo esplênico (estádio IV), sendo encaminhada ao serviço de hematologia há aproximadamente 15 dias. Atualmente, paciente segue em programação de quimioterapia com R-da-EPOCH após término de isolamento contactante Covid. Discussão: O linfoma double-hit (LDH) é uma neoplasia de alto grau e agressiva, que integra o subgrupo de LDGCB e se traduz na translocação do gene MYC combinada à translocação gênica adicional de BCL2, BCL3, BCL6 ou CCND1. Nesses casos, há maior tendência de infiltração de medula óssea e sistema nervoso central, além de prognóstico reservado associado ao alto índice de proliferação celular, elevação de DHL sérica, acometimento acima de 70 anos, apresentação clínica em estádio avançado e má resposta terapêutica. O diagnóstico é realizado por meio de biópsia excisional do local suspeito, estudo imuno-histoquímico, e, preferencialmente, acrescido da pesquisa FISH (hibridação in situ por Fluorescência) para MYC, BCL2 e BCL6. O estadiamento obedece a classificação Lugano, baseada no antigo sistema Ann Arbor: envolvimento de região linfonodal única (I); duas ou mais regiões linfonodais do mesmo lado do diafragma (II); regiões linfonodais em ambos lados do diafragma (III); sítio extranodal fora do sistema linfático (IV). O tratamento quimioterápico envolve ciclos de R-da-EPOCH (rituximabe, dose ajustada de etoposídeo, prednisona, doxorrubicina, ciclofosfamida e vincristina) a cada 21 dias. A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) considera R-da-EPOCH o tratamento padrão-ouro, porém, durante a pandemia Covid, diante da indisponibilidade de leitos e/ou bombas de infusão portáteis para tratamento ambulatorial, orienta levar em consideração a terapia com R-CHOP, seguido de estratégias de consolidação, que incluem TCTH, a fim de não atrasar o tratamento. Conclusão: O LNHDGCB double hit pode acometer jovens, em sítio extranodal e exige abordagem diferenciada por sua agressividade e alto grau associados a prognóstico reservado. Apesar disso, com as novas terapêuticas e estadiamento clínico precoce é uma neoplasia potencialmente tratável e curável, cujo tratamento pode se beneficiar do uso de técnicas citogenéticas para pesquisa de translocações gênicas.