Kriterion (Dec 2011)

Sobre a interpretação da epistemologia de Hume

  • J. P. G. Monteiro

DOI
https://doi.org/10.1590/S0100-512X2011000200002
Journal volume & issue
Vol. 52, no. 124
pp. 279 – 291

Abstract

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Na filosofia de Hume há uma nítida distinção entre a obra da juventude e a obra da maturidade. Mas seu Tratado da Natureza Humana não está no mesmo caso que essas outras obras de juventude que justificam falar de um jovem Hegel ou de um jovem Marx, ou de um Kant pré-crítico em contraste com o Kant da filosofia transcendental. Trata-se de um caso intermédio: a filosofia do autor é sempre a mesma, mas o Tratado apresentava, segundo o próprio autor, tais imprecisões e negligências que o levaram, na década seguinte, a publicar novas versões de suas principais teorias (do entendimento, das paixões, da moral) onde a filosofia, repito, ainda era a mesma, mas com vastas correções, notadamente na teoria do entendimento, sua epistemologia, que é o objeto do presente estudo. É preciso examinar cuidadosamente cada texto, sem pretender que haja um modelo único de leitura, de modo a fazer justiça tanto às geniais imperfeições do Tratado quando à argumentação mais sólida da Investigação sobre o Entendimento Humano. O resultado de tais leituras poderá indicar, por exemplo, não haver na primeira Investigação qualquer argumentação em favor de alguma forma de associacionismo a respeito da causação. Também não aparece ali compatibilidade da epistemologia de Hume com o empirismo comum, ou mesmo com qualquer espécie de pirronismo. Tais conclusões apóiam a interpretação de que Hume, em sua obra de maturidade, operou modificações relevantes de conteúdo, que deveriam ser reconhecidas como revisões definitivas das posições do autor.Hume's philosophy present relevant differences between the work of his young years and the one produced in his maturity. However, the Treatise of Human Nature does not justify referring to a young Hume the same way Hegel, Marx or Kant have sometimes been considered. Hume's work is rather an intermediate case. The author allegedly develops his philosophical thought publishing new versions of its mains subjects, while criticizing the Treatise for its negligence and imprecision. The changes require an attentive examination of each text essaying different reading procedures in order to do justice to the genial imperfections of the Treatise as well as to the more consistent arguments presented in the Enquiry concerning Human Understanding. The result of a careful reading of the first Enquiry may shed light upon the absence of any involvement of association of ideas in causal reasoning. One can also find no compatibility of Hume's epistemology either with common empiricism or any kind of pyrrhonism. Such findings may offer strong support to the conclusion that Hume's mature epistemology operated relevant changes not only in the manner but also in the matter of his earlier work that should be acknowledged as final versions of the author's theoretical positions.

Keywords