Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE INDUZIDA PELO USO DE IMATINIBE EM PACIENTE COM LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA: RELATO DE CASO

  • PVHD Santos,
  • ILS Pinto,
  • E Pena,
  • LB Lucena,
  • LR Borges,
  • MIG Migueis,
  • MC Pedro,
  • COC Vieira,
  • JA Martins,
  • SH Nunes

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S207

Abstract

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Introdução: A leucemia mieloide crônica (LMC) é uma neoplasia mieloproliferativa clonal e representa 15 a 20% dos casos de leucemia no adulto com incidência de 1 a 2 casos por 100.000 pessoas. É reconhecida pela presença do cromossomo Philadelphia (translocação recíproca de 9 e 22) em cerca de 95% dos casos, gerando um gene de fusão, BCR-ABL, que promove aumento da atividade da enzima tirosina kinase levando a proliferação de granulócitos maduros e em maturação. Atualmente os Inibidores de Tirosina Kinase (TKI) são as drogas de primeira escolha para tratamento da LMC. O objetivo deste estudo é relatar um caso de anemia hemolítica autoimune ocasionada pelo uso de Imatinibe em paciente portador de LMC. Caso clínico: Paciente do sexo feminino, atualmente com 56 anos, com diagnóstico de LMC desde 2007, com início do tratamento em abril desde mesmo ano com Imatinibe 400 mg/dia, atingindo Resposta Molecular Maior. Em fevereiro de 2018 apresentou exames laboratoriais sugestivos de anemia hemolítica autoimune (AHAI) (hemoglobina de 7,6 g/dL, reticulocitose relativa 4,50 %, aumento de LDH 2x o valor de referência e coombs positivo), sem causa definida após investigação. Suspenso Imatinibe e iniciado tratamento de AHAI com prednisona 1 mg/kg, com suspensão em 3 meses após resolução dos marcadores de hemólise, com retorno subsequente do Imatinibe. Apresentou o mesmo evento em maio de 2019, tratado novamente com prednisona 1 mg/kg, porém sem suspensão do TKI, com melhora laboratorial. Em setembro de 2020, teve nova queda da hemoglobina compatível com novo quadro de AHAI. Devido à suspeita de o Imatinibe ser o agente causador, optou-se pela suspensão da medicação e pela reintrodução do tratamento de AHAI com prednisona 1 mg/kg. Apresentou melhora da anemia e dos marcadores de hemólise, sendo trocado TKI para Nilotinibe 800 mg/dia, com o qual alcançou resposta molecular RM 4,0 e não apresentou novos eventos de AHAI. Discussão: O Imatinibe foi o primeiro TKI a ser aprovado pela Food and Drugs Administration (FDA) com segurança e eficácia apresentando efeitos colaterais leves relatados, como citopenias, hepatotoxicidade, edemas, sintomas gastrointestinais, insuficiência cardíaca, diminuição da densidade mineral óssea, dentre outros, com raros relatos de efeitos adversos relacionados à anemia hemolítica autoimune. A anemia hemolítica autoimune induzida por drogas é um evento raro, com incidência de 1 a 3 casos por 100.000 indivíduos, causada quando uma determinada droga induz aumento da produção de autoanticorpos que se direcionam contra antígenos da membrana dos eritrócitos reduzindo seu tempo de vida. Sua resposta pode ser aguda, após pouco tempo da exposição, levando a eventos mais graves, ou podem levar dias a semanas após contato com a droga. O principal tratamento da AHAI induzida por drogas é a suspensão do uso do agente causador. AHAI pelo Imatinibe é apresentado em bula como evento raro, sendo pouco descrito em literatura. Hamamyh & Yassin relataram em 2020, através de uma pesquisa, 54 pacientes portadores de LMC e que cursaram ao longo da doença com AHAI. Desses, apenas 6 pacientes foram associados a drogas e 2 após uso de Imatinibe. Mais 2 casos de AHAI em associação com LMC foram relatados após 2018 no banco de dados Pubmed porém não relacionados a terapia. Conclusão: O presente estudo apresenta um caso raro de AHAI como efeito adverso pelo uso de Imatinibe com bom desfecho após sua suspensão.