Cadernos de Linguística (Nov 2024)

O uso de “imaginar”, “supor” e “pensar” como expressão de comparação no Português do Brasil

  • Felippe Tota

DOI
https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.v5.n2.id759
Journal volume & issue
Vol. 5, no. 2

Abstract

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O objetivo deste estudo é investigar o comportamento sintático, semântico e discursivo das Construções Imperativas de Atitude Proposicional (CIAP). Partimos de duas hipóteses: 1) a comparação não é apenas uma categoria semântica, mas resulta de um esquema cognitivo mais amplo; 2) enunciados introduzidos por verbos epistêmicos – “pensar”, “imaginar”, “supor” – podem, se integrados à conjunção subordinativa "que", funcionar como marcadores discursivos e mediar relações circunstanciais de comparação. A justificativa central reside na lacuna das gramáticas normativas em descrever a expressão de comparação no PB, especialmente no nível discursivo. Metodologicamente, o estudo se baseia na Linguística Cognitiva e na Gramática de Construções Baseada no Uso (GCBU), utilizando estratégias da Linguística de Corpus para analisar 1000 amostras selecionadas entre 9679 ocorrências do Corpus do Português. Além disso, foi realizada uma tarefa psicolinguística para medir a percepção da comparação pelos usuários da língua. Os resultados indicaram que as CIAP ocorrem predominantemente em contextos de exemplificação, similares às comparações canônicas, com alta percepção de comparabilidade. Também foi observada a preferência pelo uso dos verbos “imaginar” e “supor” em comparações hipotéticas. As fundamentações deste estudo recorrem à Linguística Cognitiva e à Gramática de Construções Baseada no Uso (GCBU). Mais especificamente, consideram-se aqui as contribuições de Langacker (1987, 2008), Johnson (1987) e Hilpert (2014), no sentido de delinear as dimensões estruturais, discursivas e cognitivas da referida construção. Tais perspectivas teóricas alicerçaram nossas escolhas metodológicas, principalmente no que se refere à convencionalidade e à frequência dos usos linguísticos. Inicialmente, aplicamos estratégias comuns à Linguística de Corpus, a fim de alçar dados reais e suficientemente representativos. Foram extraídas, pela plataforma Corpus do Português, 9679 ocorrências, dentre as quais 1000 amostras foram selecionadas para análise. Numa segunda etapa, desenvolvemos uma tarefa psicolinguística de compreensão, cujos itens do experimento foram elaborados a partir dos resultados da análise do corpus. O objetivo foi medir estatisticamente, em uma amostra de usuários da língua, o quanto a comparação pode ser percebida quando há este tipo de construções imperativas. Com o experimento, os usuários também puderam indicar se consideravam essas estruturas necessárias (ou não) para identificar a comparabilidade na relação entre as orações e frases. Ao serem cruzados os resultados das análises, chamou atenção a quase totalidade de construções em contextos de exemplificação (frames de exemplo), comuns também a construções comparativas canônicas. Foram esses também os itens que apresentaram índices mais altos de comparabilidade na tarefa de compreensão, se correlacionados com as outras realizações da mesma construção. As análises também indicaram predileção entre o uso dos verbos, de modo que “imaginar” e “supor” sejam os preferidos ao se estabelecerem comparações hipotéticas.

Keywords