Jornal de Assistência Farmacêutica e Farmacoeconomia (Jan 2023)
Avaliação do acesso a medicamentos pelos pacientes atendidos em um hospital público de alta complexidade
Abstract
Introdução: A compra direta de medicamentos pelos indivíduos representa uma das principais formas de acesso aos mesmos. A falta de medicamentos compromete a imagem dos serviços, podendo ocasionar em internações desnecessárias, o que acarreta uma sobrecarga nos serviços de alta complexidade, ou até mesmo no óbito do paciente. Situação mais preocupante está relacionada a pacientes portadores de doenças crônicas que necessitam de medicamentos de uso contínuo, muitas vezes com o tratamento perdurando por toda a vida do indivíduo. Objetivo: Avaliar o acesso a medicamentos por pacientes atendidos em Hospital público de alta complexidade de Salvador-Bahia. Métodos: A coleta dos dados foi realizada no ambulatório de cardiologia de um hospital público de Salvador/Bahia, antes da consulta. Foi aplicado um questionário por dois investigadores. A população alvo disponível foram os pacientes com doenças cardiovasculares em consulta ambulatorial em uso contínuo de medicamentos com idade superior a 18 anos. Realizou-se uma amostra por conveniência de pacientes atendidos no ambulatório, utilizando-se da agenda de marcação de consultas do dia, no período de dezembro de 2012 a janeiro de 2013. Resultados: Dos sessenta pacientes entrevistados, em relação aos dados gerais, trinta e sete pessoas foram do gênero feminino (62%) e 23 do gênero masculino (38%), sendo 33 adultos (55%) e vinte e sete idosos (45%). Em relação a renda, 43% recebem apenas um salário mínimo mensal. Em relação ao local de aquisição dos medicamentos, 55% (33 pacientes) adquiriram em Rede Pública e Farmácia Comercial. Dos pacientes que adquiriram os medicamentos em Rede pública/posto de saúde, 79% (30 pacientes) foram por motivo de condições financeiras; e desses pacientes, 27% (12 pacientes) afirmaram que não optaria por comprar medicamentos na farmácia comercial pelos mesmos serem entregues gratuitos na Rede pública. Dos pacientes que compram na farmácia comercial, 43% (23 pacientes) afirmaram não adquirir medicamentos na rede pública em função da falta de medicamento na unidade. Em relação ao medicamento não ser distribuído na rede pública, 56% dos pacientes (14) disseram que questionaram o médico a possibilidade de prescrever um medicamento que fosse distribuído gratuitamente pela rede pública, no entanto, o mesmo afirmou não haver substituto. Conclusão: O presente estudo alcançou o seu principal objetivo, no qual foi possível verificar que a escolha pelos pacientes para aquisição dos medicamentos em dois estabelecimentos, tanto em Rede Pública como em Farmácia Comercial, mostra que a falta de medicamentos na Rede Pública, associada com a baixa condição financeira da maioria dos pacientes, acaba dificultando no acesso aos medicamentos. Além disso, ao afirmarem que nunca deixaram de utilizar os medicamentos por não ter dinheiro para comprá-los, apesar da falta de condições, enfatiza o dever do governo em fornecer os medicamentos gratuitamente aos cidadãos.