Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
AVALIAÇÃO DE EFICÁCIA E TOXICIDADE DO PROTOCOLO DE CONDICIONAMENTO LACE EM PACIENTES COM LINFOMA SUBMETIDOS AO TRANSPLANTE AUTÓLOGO DE MEDULA ÓSSEA
Abstract
Objetivos: O objetivo foi avaliar a toxicidade do protocolo LACE e sua aplicação como protocolo alternativo em nosso meio. Materiais e métodos: Realizamos uma análise retrospectiva de 29 pacientes submetidos a transplante autólogo de medula óssea com o protocolo LACE (lomustina, citarabina, ciclofosfamida e etoposídeo) no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) entre 2018 e 2022. Foram coletados dados de variáveis demográficas, tratamentos prévios e parâmetros para avaliação de toxicidade, como neutropenia febril, mucosite, disfunção orgânica, necessidade de terapia intensiva e mortalidade. Resultados: Foram identificados 29 pacientes, com idade mediana de 36 anos (variando de 23 a 62 anos), com diagnóstico de linfoma (17 Hodgkin e 12 não Hodgkin. A mediana de linhas de tratamentos anteriores foi de 2 (variando de 1 a 4 linhas) e o GDP (gencitabina, dexametasona e cisplatina) foi utilizado em 41% dos casos de resgate anterior ao TAMO (n = 12). A maioria dos pacientes – 82,8% - apresentava doença sensível à quimioterapia (n = 22) e apenas 6,9% dos pacientes foram considerados resistentes ao tratamento de resgate (n = 2). Nenhum paciente apresentou mucosite grau 3 ou 4 e 1 paciente necessitou de nutrição parenteral total devido a enterocolite neutropenica (3%). Toxicidades não hematológicas (hepáticas, renais ou cardíacas) grau 3 ou 4 ocorreram em 4 casos (13,7%), destes, 2 casos foram de elevações assintomáticas de enzimas hepáticas. A mortalidade associada ao transplante foi de 3% (n = 1). A sobrevida mediana no total de pacientes foi de 45 meses, sendo que na população de linfoma de Hodgkin não foi atingida e na população de linfoma não Hodgkin foi de 28 meses (p = 0,169). Discussão: O transplante autólogo de células tronco hematopoiéticas é uma modalidade de tratamento frequentemente empregada nos linfomas recaídos ou refratários à primeira linha de tratamento. O BEAM (carmustina, etoposideo, citarabina e melfalano) está entre os protocolos tradicionalmente utilizados como condicionamento, entretanto, faltam dados comparativos na literatura em relação ao regime com maior eficácia e segurança. No período do estudo, houve desabastecimento de carmustina, medicação utilizada no protocolo BEAM. O cenário de desabastecimento de quimioterápicos a nível nacional não é infrequente e salienta a importância da investigação de regimes alternativos, principalmente no âmbito do Sistema Único de Saúde, onde a importação de fármacos não é uma realidade para a maioria das instituições. Os resultados encontrados sugerem um baixo perfil de toxicidade, tanto do ponto de vista hematológico quanto de outros sistemas. A sobrevida mediana sugere que pacientes com Linfoma de Hodgkin possam contar com benefício adicional em termos de resposta, o que precisa ser confirmado em análises posteriores. Conclusão: O condicionamento com o protocolo LACE apresentou perfil de toxicidade baixo, colocando-o como alternativa aos protocolos convencionais. Os resultados obtidos não diferem dos reportados na literatura com o mesmo protocolo.