Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
PREVALÊNCIA DE EFEITOS ADVERSOS CARDIOVASCULARES NOS USUÁRIOS DE INIBIDORES DE TIROSINA QUINASE DE BRUTON DO SERVIÇO DE HEMATOLOGIA DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Abstract
Introdução: A Tirosina Quinase de Bruton (TKB) é uma proteína citoplasmática encontrada em células linfoides de linhagem B e o seu bloqueio por meio de inibidores (ITKB) é aprovado para o tratamento de neoplasias com essa origem celular. Além da eficácia medicamentosa são também descritos efeitos adversos clássicos cardiovasculares como Hipertensão Arterial (HAS) e Fibrilação Atrial (FA). Objetivo: Avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes em tratamento com ITKB e a prevalência de efeitos adversos cardiovasculares no serviço de hematologia do HC/UFG. Metodologia: Análise de prontuários dos pacientes em uso de ITKB (ibrutinibe e acalabrutinibe) no serviço de hematologia do Hospital das Clínicas da UFG nos últimos 5 anos, entre Janeiro de 2017 a Novembro de 2022. Resultados: Nessa pesquisa foram encontrados 24 pacientes. Destes, 70.8 % (17) eram portadores de Leucemia Linfoide Crônica, 20.8 % (5) Linfoma de células do Manto, 4.2% (1) portador de Linfoma de Zona Marginal Esplênico e 4.2% (1) portador de Macroglobulinemia de Waldestrom. Entre os ITKB o mais utilizado foi o Ibrutinibe com 87.5 %, seguido pelo Acalabrutinibe com 12.5%. O sexo masculino foi mais prevalente com 62.5% contra 37.5% do sexo feminino. Foi evidenciado que a idade média ao diagnóstico foi de 64.7 anos, variando entre 49 e 80 anos. O ITKB foi usado na maioria dos casos em terceira linha de tratamento (12 vezes); além de 9 vezes em segunda linha de tratamento, 2 vezes em primeira linha e 1 vez em quarta linha. O tempo médio entre o diagnóstico e o início de ITKB 57.4 meses, variando entre 4 e 151 meses. Dentre os pacientes avaliados, 62.5% apresentavam HAS previamente ao uso de ITKB, e 62.5% após o uso de ITKB, dessa forma nenhum paciente desenvolveu hipertensão durante o tratamento. Discussão: Nenhum paciente apresentava FA prévia ao ITKB, com descrição na literatura de 6% de arritmia prévia e 20.8% (5 pacientes) desenvolveram FA após introdução de ITKB, em 100% dos casos a FA ocorreu com o uso de Ibrutinibe, assim, não foi observada arritmia nos pacientes que utilizaram Acalabrutinibe. Ademais, 60% dos pacientes eram previamente hipertensos, 80% eram homens e a idade média na complicação com fibrilação atrial foi de 72.8 anos. Além do que, 80% (4 pacientes) estavam em terceira linha de tratamento, 1 paciente (20%) estava em segunda linha de tratamento e nenhum paciente apresentou FA durante o uso de ITKB como primeira linha de tratamento. Vale a pena ressaltar que 60% dos pacientes que apresentaram FA como complicação estavam em vigência de sepse durante o episódio de arritmia. Observou-se ainda que 1 paciente apresentou hemorragia digestiva alta que levou ao óbito, configurando sangramento maior. Conclusão: Neste estudo de prevalência foi visto que dentre os pacientes avaliados houve incidência significativa de FA, superando inclusive os níveis relatados em literatura, 20.8% versus 4-16%, porém é necessário ressaltar que excluindo pacientes que estavam em vigência de sepse houve FA em 8.3% dos casos, compatível com a literatura. Ademais, também foi encontrada relação positiva da FA com HAS (62.5%), sendo esse o principal fator de risco relatado, além de sangramento grave em 4% da amostra, dado esse também compatível com a literatura.