Veredas (Jul 2021)
Narrativa e memória na Amazônia de Dalcídio Jurandir
Abstract
A partir do conceito cultural e linguístico de lusografia, de Jean-Michel Massa, que reitera a diversidade de enunciados em uma única – embora diversificada – língua portuguesa, e das ideias de memória pessoal e memória histórica da região amazônica, o presente estudo pretende desvendar, através da análise dos romances Belém do Grão-Pará (1960) e Passagem dos Inocentes (1936), ambos de Dalcídio Jurandir, a sociedade paraense da primeira metade do século XX, já que o citado autor testemunhou esse mundo e construiu nos seus romances uma interpretação da sua experiência testemunhal, vista a partir das margens, das periferias, com os pés bem firmes no chão. Para demonstrar essa preocupação do autor em retratar as minorias, nos debruçamos sobre a análise da personagem "Mãe Ciana", de Belém do Grão-Pará, que, embora aparentemente secundária na trama, constitui uma perfeita alegoria étnicocultural da Amazônia – fruto da mistura envolvente entre nativos ameríndios e negros filhos da diáspora africana no Norte do Brasil. Dalcídio, autor etnógrafo, tem como perspectiva principal a de romancista, embora também chame a atenção a sua prática jornalística, que brilhantemente faz par com a outra, a de criador de romances. Nesse estudo, ressaltamos que o autor utiliza, além de sua memória pessoal, a memória histórica da região amazônica baseada em pesquisas e em testemunhos de amigos e parentes, fatos e pessoas que viveram em Belém na primeira metade do século XX, transformando os seus romances em verdadeiros "lugares de memória", emaranhados à memória coletiva dos sujeitos amazônicos, priorizando os mais pobres, que ganham o leitor na mesma forma de identificação e significados. Dalcídio percebia a história como um campo de lutas e sua narrativa compromissada com a maioria explorada demonstra isso, escrevendo um romance politico capaz de contribuir com a transformação do mundo.
Keywords