Revista Baiana de Educação Matemática (May 2025)

Editorial

  • Carlos Alberto Vasconcelos ,
  • Suzi Samá Pinto

Journal volume & issue
Vol. 6, no. 1

Abstract

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É com satisfação que apresentamos à comunidade acadêmica o dossiê temático intitulado “Educação Matemática Contemporânea: Desafios e Perspectivas em Práticas Pedagógicas”, cuja proposta consiste em articular um conjunto de estudos que, embora diversos em suas abordagens teóricas e metodológicas, convergem para a reflexão crítica e propositiva acerca das práticas pedagógicas no ensino de Matemática no Brasil contemporâneo. Este dossiê resulta, em sua maioria de uma seleção de trabalhos apresentados no I Colóquio Internacional Interfaces entre Educação Básica, Graduação e Pós-Graduação e I Simpósio do Grupo de Estudos e Pesquisas em Formação de Professores e Tecnologias da Informação e Comunicação – FOPTIC, os quais refletem as inquietações e as inovações dos contextos educacionais atuais. Em sua totalidade, as dez contribuições aqui apresentadas reforçam a necessidade de uma formação docente crítica, de uma prática pedagógica sensível às realidades locais e atuais, bem como de um ensino que valorize o protagonismo estudantil. O artigo de Alixandre Marques Cruz e Carlos Alberto de Vasconcelos analisa as concepções de professores dos anos finais do Ensino Fundamental, de escolas da rede pública municipal de Poço Redondo (SE), acerca do uso de jogos em aulas de Matemática. A pesquisa, de natureza qualitativa, revela que os docentes reconhecem os jogos como instrumentos pedagógicos relevantes, identificando diferentes estratégias de planejamento, aplicação e mediação. Além disso, os autores apontam obstáculos enfrentados no cotidiano escolar que impactam a implementação dessas atividades. A pesquisa de Pedro André Pires Machado e Fernando Siqueira da Silva, por sua vez, insere-se no campo da integração entre tecnologia e cognição. Os autores investigam o impacto do uso de videoaulas curtas de Matemática no desenvolvimento de esquemas cognitivos de estudantes do Ensino Médio. A pesquisa foi fundamentada na Teoria dos Campos Conceituais e os resultados foram analisados com base no método da Análise de Conteúdo. O estudo aponta que, embora promissoras, as videoaulas apresentam limitações quando o nível de complexidade dos conteúdos aumenta, demandando reflexões sobre a duração e o desenho didático desses recursos. Nadir Santos Freitas e Ivanete Batista dos Santos exploram o ensino de Educação Financeira associado à Metodologia de Resolução de Problemas. A partir de uma revisão sistemática da produção acadêmica nacional entre 2008 e 2023, as autoras evidenciam que as práticas investigadas se concentram em tópicos de Matemática Financeira básica, como o planejamento financeiro, o orçamento, o investimento e o empréstimo. Os resultados evidenciam que essa abordagem problematizadora se mostra frutífera, sobretudo quando ancorada em contextos reais. O estudo de Célio de Mendonça Clemente, Hermano José Pereira Silva, Emmanuel de Mello Nogueira e Carlos Alberto Vasconcelos lança luz sobre os desafios enfrentados durante o isolamento social decorrente da pandemia da covid-19, com foco no ensino de Matemática na rede pública do Ceará. Por meio da análise de dados de avaliações em larga escala e questionários, os autores identificam uma significativa falta de domínio dos conceitos matemáticos, associada à precariedade de recursos tecnológicos e à ausência de interação pedagógica. Os resultados apontam todos os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental no nível ‘crítico’ de proficiência e 70% dos estudantes do Ensino Médio no ‘muito crítico’ ao final do primeiro ano do pós-pandemia. Com foco na formação inicial de professores, Mateus Santos Angelo, Denize da Silva Souza e Maria Batista Lima investigam o uso do Percurso de Estudo e Pesquisa (PEP), fundamentado na Teoria Antropológica do Didático. O estudo foi desenvolvido junto a uma turma de Estágio Supervisionado em Ensino de Matemática como estratégia para a formação inicial de professores de Matemática. O trabalho evidencia o potencial do PEP para promover o protagonismo investigativo do futuro docente, favorecendo uma abordagem investigativa e dialética no ensino de matemática. As contribuições de Felismina de Sousa Neta, Lara Ronise de Negreiros Pinto Scipião e Maria José Costa dos Santos versam sobre as práticas pedagógicas, insubordinadas criativas, investigadas por meio de uma revisão sistemática centrada na aplicação da Metodologia Sequência Fedathi. A pesquisa destaca o papel dessas práticas na promoção da interação, da motivação discente e na incorporação de tecnologias digitais, além de propor uma ressignificação das metodologias de ensino a partir de uma postura investigativa e inovadora. No campo da Educação Matemática internacional, Paula Almeida de Carvalho Silva, Simone Damm Zogaib e Abimael Magno Ouro Filho apresentam uma revisão sistemática integrativa sobre o desenvolvimento do sentido espacial infantil. A apreciação de 185 artigos, por meio da Análise de Redes Sociais, revela lacunas significativas, como a escassez de pesquisas voltadas à Educação Infantil e aos anos iniciais, além da desconexão entre áreas do conhecimento. Os autores defendem a necessidade de reintegrar a Geometria aos currículos escolares por meio de abordagens interdisciplinares. O trabalho de Bruno Braga dos Santos, Lilian Cristina Fonseca Menezes e Luciano Pontes da Silva propõe uma reflexão sobre o processo avaliativo na Educação Estatística. A partir de uma pesquisa bibliográfica de produções científicas recentes, os autores enfatizam a importância de avaliações diagnósticas e formativas como parte indissociável do processo de letramento estatístico, ressaltando o papel mediador do professor e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem. Somando-se às discussões apresentadas, Hugo Vinicius de Sousa Santos, Carlos Alberto Gaia Assunção e Werventon dos Santos Miranda trazem ao debate a temática da Alfabetização Matemática no contexto da Educação do Campo, evidenciando os desafios e as especificidades de uma escola localizada no sudeste paraense. Por meio de um levantamento bibliográfico de pesquisas de pós-graduação e de um estudo de caso na Escola Municipal Juscelino Kubitschek, os autores articulam teoria e prática para destacar a importância de uma pedagogia contextualizada e interdisciplinar, que respeite e integre as práticas culturais dos alunos do campo. Suas análises apontam para a necessidade de repensar as práticas de alfabetização matemática de maneira sensível às realidades rurais e oferecem subsídios para novas investigações sobre essa temática. Finalmente, encerramos este dossiê com a contribuição de Vanessa Lucena Camargo de Almeida Klaus, que explora a aprendizagem da matemática no ensino superior a partir da perspectiva da inclusão de estudantes com deficiência visual. Fundamentada na Teoria Ator-Rede, a autora realiza uma revisão narrativa de pesquisas nacionais, problematizando as interações e sociabilidades que permeiam as práticas pedagógicas inclusivas. Ao deslocar o foco da inclusão para uma rede de atores humanos e não humanos, a autora evidencia como experiências partilhadas e conexões interdependentes podem (re)configurar as práticas de ensino, potencializando o acesso de estudantes com deficiência visual ao saber matemático. Essa abordagem amplia nossa compreensão sobre os processos inclusivos no ensino superior, apontando caminhos para práticas pedagógicas mais sensíveis e colaborativas. Ao reunir estes artigos, o dossiê reafirma a importância da pesquisa como prática reflexiva que alimenta o fazer docente e fortalece o processo ensino-aprendizagem. Os textos aqui apresentados não apenas retratam desafios enfrentados na contemporaneidade, mas também delineiam perspectivas pedagógicas que ampliam o horizonte da Educação Matemática. Convidamos, assim, os leitores e as leitoras a se debruçarem sobre as reflexões aqui propostas, reconhecendo, com elas, os caminhos que se abrem para pensar e repensar a Educação Matemática em tempos de mudanças profundas e urgentes.

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