Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (Nov 2024)
Coleções vegetais no noroeste da Amazônia
Abstract
Resumo A altíssima diversidade de plantas cultivadas observadas no contexto dos povos indígenas do noroeste da Amazônia responde ao conceito de uma coleção viva. Estacas, sementes e mudas são bens móveis vivos que circulam por toda a região, num movimento de constante recomposição da diversidade agrobiológica na escala doméstica. A diversidade presente, principalmente das mandiocas, bem como suas formas de manejo se encaixam nessa noção: suas trajetórias espacial e temporal são conhecidas; ela é constituída por plantas documentadas com suas características e seus nomes, atributos fundamentais das plantas cultivadas, as quais são apresentadas e vivenciadas em espaços especializados: as roças. Certas variedades se ancoram nas narrativas de origem das plantas cultivadas, porém surgem pontos de ruptura entre a diversidade relatada nas narrativas ancestrais e nas práticas de hoje, o que nos leva a interrogar o papel da diversidade ao longo da história regional. O acúmulo de diversidade e a coleção serão aspectos relativamente recentes relacionados à colonização? Em conclusão, destacamos que, num periódo de forte instabilidade socioecológica, novas chaves de leitura de uma diversidade biológica criada e manejada pelos povos indígenas, que não limitem sua compreensão à noção hegemônica de recurso fitogenético e assegurem sua continuidade, são necessárias.
Keywords