Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (Nov 2024)

Coleções vegetais no noroeste da Amazônia

  • Laure Emperaire,
  • Elaine Moreira

DOI
https://doi.org/10.1590/2178-2547-bgoeldi-2024-0010
Journal volume & issue
Vol. 19, no. 3

Abstract

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Resumo A altíssima diversidade de plantas cultivadas observadas no contexto dos povos indígenas do noroeste da Amazônia responde ao conceito de uma coleção viva. Estacas, sementes e mudas são bens móveis vivos que circulam por toda a região, num movimento de constante recomposição da diversidade agrobiológica na escala doméstica. A diversidade presente, principalmente das mandiocas, bem como suas formas de manejo se encaixam nessa noção: suas trajetórias espacial e temporal são conhecidas; ela é constituída por plantas documentadas com suas características e seus nomes, atributos fundamentais das plantas cultivadas, as quais são apresentadas e vivenciadas em espaços especializados: as roças. Certas variedades se ancoram nas narrativas de origem das plantas cultivadas, porém surgem pontos de ruptura entre a diversidade relatada nas narrativas ancestrais e nas práticas de hoje, o que nos leva a interrogar o papel da diversidade ao longo da história regional. O acúmulo de diversidade e a coleção serão aspectos relativamente recentes relacionados à colonização? Em conclusão, destacamos que, num periódo de forte instabilidade socioecológica, novas chaves de leitura de uma diversidade biológica criada e manejada pelos povos indígenas, que não limitem sua compreensão à noção hegemônica de recurso fitogenético e assegurem sua continuidade, são necessárias.

Keywords