CSOnline (Aug 2020)
Um estupro de sessenta mil
Abstract
Em 2016, o Brasil registrou sessenta mil casos de estupros, com média de uma mulher sendo vítima a cada dez minutos no país. Em quarenta segundos, um desses casos, envolvendo trinta e três homens e uma adolescente de dezesseis anos, na comunidade do Barão, Zona Oeste do Rio de Janeiro, se tornou público, após a divulgação do vídeo com a legenda “amassaram a mina intendeu ou não intendeu”. A comoção do caso serviu para aprofundar a dimensão da cultura do estupro no debate sobre as violências sexuais, sendo identificada a partir dos estudos, vivências e pensamentos feministas. O desenrolar da discussão traz as informações divulgadas pela imprensa sobre o caso, em um debate que acentua o jogo discursivo de interpretações de comportamentos, no qual permeia a opinião pública e a relação dos movimentos feministas com as mídias sociais. Resultam em considerações as contribuições da produção de discursos dos movimentos feministas, que questionam as ‘normas’ que produzem a naturalização das violências sexuais contra as mulheres, indicando possibilidades e perspectivas de desconstrução da cultura do estupro. Ressalto a urgência de se considerar a análise da cultura do estupro a partir de um olhar intersecional, rompendo com a universalização da categoria gênero e atentando-se para as diferenças nas experiências de mulher.
Keywords