Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)
MORTALIDADE POR COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA NO BRASIL: ANÁLISE DE UMA DÉCADA (2010-2019)
Abstract
Objetivo: Avaliação da mortalidade por coagulação intravascular disseminada (CID) no Brasil no período de 2010 a 2019. Material e métodos: Trata-se de um estudo de natureza epidemiológica, retrospectivo e descritivo que aborda informações sobre a mortalidade por CID, no Brasil, durante os anos de 2009 a 2019, cujos dados foram disponibilizados pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Por ser um estudo com dados de alcance público, a submissão ao comitê de ética em pesquisa da Universidade do Estado do Pará não foi necessária. Resultados: No período que vai do início de 2010 ao final de 2019, foram notificados no Brasil 2.088 óbitos por CID, sendo 2017 o ano com maior índice de mortes e 2010, o menor, totalizando 380 e 205 casos, respectivamente. Em relação ao número total de mortes por coagulopatia de consumo no decênio em questão, 869 casos, aproximadamente 41% do total, ocorreram na região sudeste; 523 na região nordeste; 267 na região sul; 264 na região norte e 164 na região centro-oeste. Os Estados que, no período em questão, acumularam o maior número de casos da sua região foram: São Paulo, com 493; Bahia, com 132; Rio grande do Sul, com 113; Pará, com 134 e Goiás, com 73 e, para cada um desses Estados, sucessivamente, o ano em que ocorreu o maior número de mortos pela condição patológica supracitada foi: 2017; 2011; 2017; 2018 e 2016. Discussão: Várias condições clínicas, como a sepse, queimadura, traumas, podem corroborar com o surgimento da CID. Essa patologia se caracteriza como uma síndrome adquirida secundária, que promove uma irregular e exagerada resposta inflamatória, com quebra da homeostase trombótica, o que causa falecimento de órgãos, pela oclusão de vasos, e também pode causar danos hemorrágicos. Em relação à epidemiologia da CID, os estudos no Brasil e no mundo são escassos, entretanto, comparando os dados do DATASUS com a literatura estrangeira, nota-se certa consonância de dados, tendo em vista que, nos EUA, se relatou um crescimento substancial de casos de CID com a idade, principalmente na população masculina. Nos estudos de fora, apontou-se uma queda do número de casos de CID no intervalo de 10 anos, porém, nos dados do DATASUS, o número de casos se manteve relativamente constante de 2010 a 2019, fato que merece investigação. Ademais, na análise das regiões do país, não foram detectadas, nos resultados, diferenças alarmantes na proporção de mortes pela população de cada região. Finalmente, entre as limitações deste estudo, destaca-se a possibilidade de subnotificação de dados, os quais podem não representar de modo fiel a situação brasileira da CID. Conclusão: Com a realização do estudo, foi verificado que no Brasil houve estabilidade com um pequeno aumento no número de mortes pela CID. Acerca das regiões, não foram encontradas diferenças do número de casos de CID, com pequenas flutuações entre os anos. Conclui-se que são necessários estudos futuros com mais dados para se avaliar outros fatores relacionados à mortalidade da CID, principalmente por ela aparecer secundariamente a grandes traumas e a sepse, e por carecer de tratamento rápido para evitar a perda de vidas.