Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)
IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NO DESFECHO DE TRATAMENTO DA TUBERCULOSE EM HOSPITAL TERCIÁRIO
Abstract
Introdução: O relatório global da Organização Mundial de Saúde mostrou que o número de casos novos notificados de tuberculose (TB) caiu de 7,1 para 5,8 milhões entre os anos de 2019 e 2020. Revelou também que houve aumento do número de óbitos por tuberculose, fato ocorrido pela primeira vez na última década. Objetivo: Comparar a apresentação, diagnóstico e desfecho do tratamento dos casos novos notificados de tuberculose em período prévio e durante a pandemia de COVID-19. Método: Trata-se de um estudo descritivo, observacional, a partir de dados secundários do sistema de informação TB-WEB referente às notificações de tuberculose de um Hospital Universitário de referência para tuberculose multirresistente, HIV e transplantes do estado de São Paulo no período pré-pandêmico (2018/2019) e pandêmico (2020/2021) de COVID-19. Foram analisadas as variáveis apresentação clínica, comorbidades e o desfecho dos casos em ambos os períodos. Resultados: Entre janeiro de 2018 a dezembro de 2021, foram notificados 349 casos de tuberculose no hospital, sendo 206 em 2018/2019 e 143 em 2020/2021, o que representou um declínio de 30,6% das notificações no período pandêmico. Em relação as comorbidades associadas, o acometimento pulmonar foi observado em 63% (220/349) dos casos e 37% (129/349) apresentavam forma extrapulmonar ou disseminada, 20% (70/349) dos pacientes tinham HIV associado, 10,9% (38/349) diabetes mellitus e 57,1% (199/349) outras comorbidades. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas na forma de apresentação da doença e frequência das comorbidades entre os dois períodos avaliados. Dos 349 pacientes notificados, 302 tiveram desfecho no hospital, 5 foram transferidos e os demais permanecem em tratamento. O desfecho do tratamento da TB foi favorável em 74% (148/200) dos casos no pré-pandêmico e 54% (54/102) no pandêmico (p = 0,001). As taxas de óbito e o óbito por tuberculose também diferiram de forma significativa na comparação entre os períodos (p < 0,05). Conclusão: Houve uma redução do número de casos notificados com tuberculose. As apresentações clínicas foram semelhantes nos dois períodos, entretanto o grau de severidade necessita ser avaliado bem como a co-apresentação TB/COVID-19. A elevação nas taxas de óbitos por tuberculose requer a reorganização dos serviços para a suspeição, diagnóstico e tratamento de forma hierarquizada na dinâmica do SUS para retomar as metas de controle da doença.