Revista Maracanan (Nov 2021)

Um comerciante lê livros: negócios e cultura escrita no interior da América portuguesa

  • Maria Aparecida de Menezes Borrego,
  • Jean Gomes de Souza

DOI
https://doi.org/10.12957/revmar.2021.59459
Journal volume & issue
Vol. 0, no. 28
pp. 141 – 172

Abstract

Read online

As minas de Cuiabá foram descobertas nas décadas iniciais do século XVIII no oeste da América portuguesa, para além da linha de Tordesilhas, e para lá se dirigiram milhares de colonos e reinóis em busca de enriquecimento. Ao longo dos anos de 1730 e 1740, comerciantes e sertanistas que atuavam na região com negócios, mineração, criação de gado e estabelecimento de sesmarias enviaram demandas de natureza diversa às autoridades locais e metropolitanas a fim de alcançarem vantagens no processo de ocupação do território. Nesse artigo, analisaremos um requerimento encabeçado pelo homem de negócio Luis Rodrigues Vilares, dirigido ao Senado da Câmara da Vila Real do Cuiabá em 1735, com vistas a se obter autorização para o comércio de cavalos com os indígenas Guaykuru para introdução dos animais nas minas de Cuiabá. Os signatários recorreram a ordens régias, bandos, regimentos coloniais, tratados de limites, compêndio de efemérides e obras de autores como padre Simão de Vasconcelos e padre Antônio Vieira para fundamentar sua solicitação. Buscaremos discutir, por um lado, os contextos de produção e circulação do manuscrito e sua trajetória custodial e, por outro, a circulação de livros e ideias nos sertões da América portuguesa, procurando captar as formas de apropriação dos conteúdos das fontes impressas mobilizadas. As demandas dos peticionários evidenciam que o grupo mercantil a que pertenciam bem soube se inserir na organização do Império lusitano, fazendo chegar às instâncias administrativas coloniais e régias o conhecimento de seus interesses em razão do domínio sobre os meandros da cultura escrita.

Keywords