Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Feb 1975)

Roedores silvestres na epidemiologia da esquistossomose mansônica no lago da Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil)

  • Omar dos Santos Carvalho,
  • Roberto Milward de Andrade,
  • Maria Inês Nahás Cortês

Journal volume & issue
Vol. 9, no. 1
pp. 26 – 35

Abstract

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Entre julho/1972 e novembro/1973, tiveram prosseguimento investigações relacionadas ao problema da esquistossomose mansônica no Lago da Pampulha, Belo Horizonte, MG (Brasil), particularmente sobre o papel epidemiológico dos roedores no problema local daquela parasitose. Dentro do período mencionado, foram realizadas 58 capturas, obtendo-se 183 exemplares de roedores, pertencentes a 8 gêneros e 10 espécies distintas. Através de exames de fezes e de vísceras (fígado e intestino) verificou-se que 10,9% (20) dos espécimens capturados abrigavam ovos e vermes adultos de Schistosoma mansoni. Apenas 3 espécies encontravam-se parasitadas: Holochilus brasiliensis (Desmarest, 1818), Nectomys squamipes squamipes (Brants, 1827) e Zygodontomys lasiurus (Lund, 1841), com, respectivamente, 11 (55,0%), 6 (30,0%) e 3 (15,0%) exemplares infectados. Não obstante, ao longo de cerca de 21 km de perímetro do lago, em 16.090 conchadas apenas 0,4% (70) revelaram-se positivas para planorbíneos, sendo capturados 64 exemplares de Biomphalaria glabrata (Say, 1818) e 35 de B. tenagophila (d'Orbigny, 1835), todos negativos para cercárias de S. mansoni. O encontro de roedores parasitados decorreria da eliminação de cercárias por planorbíneos existentes nos córregos tributários e valas a eles adjacentes. As larvas do trematódeo, levadas pela correnteza, atingiriam os roedores no "domínio vital" adstrito ao lago. Através de mecanismo análogo, os usuários do lago poderão se infectar, malgrado a permanente vigilância das autoridades sanitárias locais, que patrocinam estudos destinados à recuperação daquele local. Admitem, finalmente, os AA. que o papel dos roedores na epidemiologia da esquistossomose variará, sempre, de uma área para outra, segundo características de cada ecossistema envolvido.From july/1972 to november/1973 there were carried on the investigations on the problem of schistosomiasis mansoni in the Pampulha Lalce (Belo Horirizonte, MG., Brasil) especially regarding the rodents' epidemiological role in the area. In the 58 surveys carried out in the aforementioned period, 183 rodent specimens from 8 genera and 10 different species could be caught. Throught examination of their faeces and viscera (liver and intestine) it was found out that 10.9% (20) of those specimens harboured eggs and adult worms of Schistosoma mansoni. Such specimens belonged to just 3 species: Holochilus brasiliensis (Desmarest, 1818), Nectomys squarnipes squarnipes (Brants, 1827) and Zygodontomys lasiurus (Lund, 1841), each presenting, respectively, 11 (55.0%), 6 (30.0%) and 3 (15.0%) infected specimens. Nevertheless, in about 21 km along the lake perimeter, only 70 (0.4%) of the 16,090 ladles taken out presented planorbides, among which 64 specimens of Biomphalaria glabrata (Say, 1818) and 35 B. tenagophila (d'Orbigny, 1835) be found, all of them, showing to be negative for S. mansoni. The occurrence of parasitized rodents could be traced back to the cercariae shed by planorbides living in tributary brooks and trenches adjacents to them. Trematode larvae carried along by the water flow would reach the rodents in the "vital area" close to the lake. Through analogous process the lake usuaries might get infected despite the continuos vigilance by the local sanitary Authorities supervising the studies for a complete recovery of the area. The AA. assume that the rodents' role in the epidemiology of schistosomiasis will always vary from one area to another, in accordance with the specific features of each ecosystem involved.