Geologia USP. Série Científica (Nov 2001)
Noroeste da África – Nordeste do Brasil (Província Borborema) Ensaio comparativo e problemas de correlação
Abstract
A correlação geológica entre as porções Noroeste da África e Nordeste do Brasil enfrentam ainda uma série de problemas, de natureza virtual e real. A falta de um Projeto Internacional de Correlação Geológica (PICG) voltada para este tema é um aspecto crucial. O primeiro grupo de problemas compreende a heterogeneidade do conhecimento geológico (muitos trabalhos de circulação restrita) assim como a diversidade das escolas de pensamento científico envolvidas no tema. Progresso importante foi feito na década presente, incluindo mapas de reconstituição pré-deriva (para o Aptiano) e uma série de outoramentosno Pré-Cambriano do Brasil e da África, fatos que motivaram os autores a fazer uma revisão no assunto. A correlação entre os crátons de S. Luis-África Ocidental (norte) e S. Francisco-Congo-Kasai-Angola (sul) que delimitam todo o contexto orogênico Brasiliano-Panafricano é relativamente bem documentada. Dos pontos de vista itoestratigráficoe tectônico, esta correlação é razoavelmente confirmada. Estes crátons/blocos devem ter sido fragmentos maiores de um mesmo supercontinente do Mesoproterozóico Superior, no qual as colagens orogênicas Paleoproterozóicas eram muito importantes. Igualmente, o cinturão de orogenias que perlonga e delineia a periferia destes crátons apresentam problemas de correlação de pequena monta, tanto no caso do Médio Coreaú/Dahomeides-Pharusiano (ao norte) como no caso doSergipano/Oubanguides-Lindiano. Os principais problemas são quanto aos sistemas orogênicos distais dos crátons, mais para o interior da trama Brasiliano-Panafricana. Na parte mais ao norte da Borborema, ao norte do Lineamento Patos (Patos/Garoua) foi identificado um grande bloco de embasamento bastante retrabalhado no ciclo Brasiliano-Panafricano que foi considerado um terreno tectono-estratigráfico,fração do supercontinente Rodínia (como os crátons). Este bloco formado principalmente por rochas de alto grau contém diversos remanescentes esparsos de supracrustais proterozóicas (“schist belts”) e se estende do noroeste do Ceará à zona costeira da Borborema e daí para o interior do Niger. Predominam ortognaisses paleoproterozóicos (2,35; 2,15; 2,0 Ga) de variadas composições, com inserções locais de cálcio-silicáticas e rochas aluminosas, rranjados consoante complexo quadro lito-estrutural (Tansamazônico-Eburniano) que inclui alguns prévios núcleos arqueanos (3,45; 2,8/2,6 Ga). Osremanescentes xistosos sobrepostos (“schist belts”) são compostos de contextos vulcano-sedimentares do Paleoproterozóico Superior (Estateriano) e do Neoproterozóico (ca. 820; 730, 640-600 Ma), todos eles trabalhados e/ou retrabalhados pelas fases mais posteriroes do ciclo Brasiliano/Panafricano. Ainda que a idade dos “schist belts” nigerianos seja tema controvertido, os resultados obtidos nos homólogos brasileiros podem provisoriamente ser estendidos para a África. Na parte mais central, na área entre os lineamentos Patos (Patos/Garoua) e Pernambuco/Nagaounderé, ou seja, o chamado “median shear corridor” a correlação permanece como um problema difícil. No lado brasileiro foi reconhecido uma faixa móvel Eo-neoproterozóica (Cariris Velhos), retrabalhada no Brasiliano, e que parece parte do cinturão mundial de orogenias da colagem Grenvilliana. Há poucas evidências da presença desta faixa móvel na África até o presente.Adicionalmente, a correlação de faixas de supracrustais neoproterozóicas (excelentes exposições no Brasil) é difícil,devido a exposição rarefeita e em níveis crustais mais profundos no lado da África.