Mana (Apr 1997)
A assimilação dos imigrantes como questão nacional
Abstract
A campanha de nacionalização instituída durante o Estado Novo (1937-1945) interferiu na vida cotidiana dos imigrantes e descendentes estabelecidos no Brasil - denominados alienígenas em razão das etnicidades prevalecentes e das culturas diferenciadas - exigindo sua assimilação (enquanto sinônimo de caldeamento) em nome da unidade nacional. O presente artigo focaliza aspectos do discurso militar sobre a campanha e seus objetivos de assimilação forçada, a partir de textos produzidos por oficiais do Exército que trabalharam como agentes da nacionalização no Vale do Itajaí (SC) - região considerada paradigma de "enquistamento", afastada dos princípios da "brasilidade". Procura mostrar que, na condução da campanha pelos militares, prevaleceu uma concepção de Estado-nação que negou legitimidade a quaisquer formas de pertencimento étnico, conforme parâmetros próprios da ideologia nacionalista brasileira gestada desde o século XIX.The nationalization campaign promoted during the Estado Novo (1937-1945) interfered in the daily lives of immigrants and their descendents in Brazil - labeled as aliens because of the prevailing ethnicities and the differentiated cultures - requiring their assimilation (as a synonym for miscegenation) in the name of national unity. This study focuses on aspects of the military discourse related to this campaign and its objectives of forced assimilation, based on documents produced by Army officers working as agents for nationalization in the Itajaí Valley, in the State of Santa Catarina, a region viewed as a paradigm of "encystment", straying from the principles of "Brazilianness". It seeks to demonstrate how - in the campaign by the military - a concept of nation-state prevailed which denied legitimacy to any form of ethnic belonging, in accordance with the very parameters of Brazilian nationalist ideology as fomented since the 19th century.