Revista Portuguesa de Pneumologia (Jan 2009)
Utilidade da determinação consecutiva da proteÃna C reactiva no follow-up da pneumonia adquirida na comunidade
Abstract
Resumo: A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é a principal causa de morte devido a doença infecciosa no mundo ocidental, sendo responsável por um número superior a 20 hospitalizações/ano por mil habitantes.As guidelines internacionais preconizam a antibioterapia combinada, como seja a associação de um β-lactâmico e de um macrólido no tratamento inaugural da PAC grave. Tal facto implica a utilização de cuidados de saúde oneroso e o consumo elevado de antibióticos, contribuindo, assim, para o aparecimento de resistências bacterianas.Nos EUA, os custos do tratamento da PAC excedem os doze biliões de dólares e, em muitos paÃses desenvolvidos, observa-se um aumento da resistência aos macrólidos.Uma vez determinada a etiologia da PAC, a antibioterapia direccionada para o agente patogénico em causa pode ser iniciada. No entanto, até agora, não foi encontrada um biomarcador suficientemente sensÃvel e especÃfico para orientar a terapêutica inaugural, devendo ser criados protocolos com essa finalidade.Os autores do presente trabalho estudaram a relevância da determinação consecutiva da proteÃna C reactiva (PCR) no follow-up de doentes com PAC, avaliando o valor preditivo da normalização tardia dos nÃveis séricos da PCR relativamente ao risco de administração de antibioterapia inapropriada e a um prognóstico desfavorável.Trata-se de um estudo prospectivo multicêntrico controlado conduzido em cinco hospitais universitários holandeses, entre Junho de 2000 e Julho de 2003, sobre a eficácia clÃnica da instituição empÃrica de terapêutica antibiótica intravenosa ou oral na PAC.A PAC foi definida pela presença de, pelo menos, dois sintomas de infecção respiratória baixa aguda antes da admissão hospitalar e de um infiltrado pulmonar âde novoâ ou em progressão na radiografia do tórax. A classificação como grave está relacionada com um score no Ãndice de gravidade PSI â Pneumonia severity index >90 ou de acordo com a definição da American Thoracic Society.Foram excluÃdos indivÃduos com pneumonia intersticial, fibrose quÃstica, colonização a gram negativos devido a lesão estrutural do aparelho respiratório, esperança de vida 25c/min; Sat O2 <90% por oximetria de pulso; PaO2 <55mmHg), instabilidade hemodinâmica, alteração súbita do estado de consciência, admissão numa unidade de cuidados intensivos ou morte nos 3 primeiros dias após a admissão. A falência tardia foi decretada pela deterioração clÃnica ou complicações, incluindo a morte, necessidade de ventilação mecânica, reintrodução de antibioterapia IV após instituição de antibióticos orais, readmissão por infecção pulmonar após alta hospitalar ou pirexia após melhoria inicial no perÃodo de follow-up.O atraso na normalização da PCR foi definido por um declÃnio < 60% nos nÃveis da PCR no dia 3 e < 90% no dia 7.Foram englobados 289 doentes com uma idade média de 69,7±13,8 anos. Os scores dos Ãndices PSI e APACHE II foram respectivamente 112,4±25,7 e 13,8±4,6. Outras patologias estavam presentes em 180 indivÃduos: I cardÃaca congestiva, neoplasia, doença cerebrovascular, I renal crónica, doença hepática e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). O nÃvel sérico médio da PCR na admissão foi de 174mg/l, tendo sido ligeiramente inferior nos doentes submetidos a antibioterapia em ambulatório (135mg/l) e nos indivÃduos sob corticoterapia inalatória (146mg/l). Não se verificou associação entre os nÃveis da PCR e as caracterÃsticas demográficas ou a presença de comorbilidade. Cerca de 232 (80,3%) doentes receberam um β-lactâmico em monoterapia como terapêutica empÃrica inicial e 47 (16,3%) terapêutica combinada de um β-lactâmico com um macrólido.Em 122 (89,1%) dos 137 doentes com etiologia confirmada, a antibioterapia empÃrica foi considerada adequada. Um total de 20 indivÃduos (6,9%) morreram durante o perÃodo de follow-up e 9 foram transferidos para uma unidade de cuidados intensivos.O diagnóstico etiológico foi estabelecido em 137 (47,4%) doentes, sendo o S. pneumoniae o mais frequente (19% dos casos). Os valores da PCR mais elevados foram observados nos doentes infectados por S. pneumoniae (278mg/l) seguido pela L. pneumophila (247mg/l), H. influenzae (214mg/l), S. aureus (187mg/l), Enterobacteriaciae (129mg/l), C. pneumoniae (115mg/l), M. catarihalis (64mg/l) e M. pneumoniae (49mg/l). Doentes infectados com agentes patogénicos múltiplos tinham um valor médio da PCR, na admissão, de 213mg/l. Os doentes com etiologia desconhecida tinham uma concentração média, na admissão, inferior aos indivÃduos com confirmação bacteriológica (140mg/l versus 209mg/l).A determinação da PCR foi efectuada na admissão em todos os indivÃduos, em 264 (91,3%) no dia 3 e em 210 no dia 7 do internamento. O declÃnio médio da PCR foi de 38,4% até ao dia 3 e de 80,9% na primeira semana de follow-up. Os doentes com tratamento antibiótico inapropriado tinham uma normalização mais lenta dos nÃveis da PCR. O declÃnio <60% no dia 3 e <90% no dia 7 estava associado a um maior risco de terapêutica empÃrica inadequada. Os doentes com atraso na normalização dos nÃveis de PCR na primeira semana apresentavam uma taxa de mortalidade superior, mas tal facto não foi estatisticamente significativo.Doentes com atraso na normalização da PCR no dia 3 tinham um ligeiro aumento do risco de apresentar falência terapêutica precoce ou tardia, mas tal facto não foi estatisticamente significativo.