Boitatá (Dec 2024)

Crônicas do barro e contornos do lugar periférico em Criolo e Sérgio Vaz

  • João Paulo Fernandes

DOI
https://doi.org/10.5433/boitata.2024v19.e50406
Journal volume & issue
Vol. 19, no. 38

Abstract

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É objetivo do artigo analisar o lugar periférico nas vozes de Criolo na canção “Não existe amor em SP” em diálogo com o livro que tangencia os versos “Literatura, pão e poesia: histórias de um povo lindo e inteligente”, de Sérgio Vaz, com ênfase na crônica “Mil graus na terra da garoa”. Posto o relevo na escrita de entremeio aos versos produzidos por Vaz, surge não menos poética a memória em crônicas, as quais fecundam um eu já conhecido da e na periferia paulista que reverbera, especialmente, os espaços da comunidade e da escola em oficinas de poesia e saraus; flertando com outro poeta urbano, que para além das palavras, comunga no ritmo e cadência do sobreviver em espaços marginalizados, o Criolo; e ambos norteiam a metodologia de análise crítica das produções litero-cancional as quais se volta nosso olhar. Tais diálogos são exemplos de hibridez artística que se dão pela linguagem, matéria de realização do pensamento, e podem ser compreendidos pelas contribuições teórico-críticas de Paulo Leminski (2011), quando reflete sobre o prazer da linguagem, enquanto que Charles A. Perrone (2008) contextualiza a canção brasileira em interface com a linguagem poética concebida por Octavio Paz (2012), refletindo as nuances sociológicas nas palavras de Heloisa Buarque de Holanda (2020) acerca dos limites da periferia. Ancorados nesses vieses, reconhecemos os autores, suas vozes e ecos do (r)existir na projeção dos lugares que foram ambientes de nascimento, identidade e luta de corpos invisibilizados, na ambivalência da linguagem que redimensiona o lugar em intercâmbio com o centro urbano e seus contornos, que tornam a poesia alimento sustentável aos sujeitos empobrecidos pela sociedade.

Keywords