Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
ASSINATURA MOLECULAR INFLAMATÓRIA ESTÁ ASSOCIADA A MÁ RESPOSTA A INIBIDORES DE FLT3 EM PACIENTES COM LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA FLT3-ITD
Abstract
A European LeukemiaNet (ELN), em 2022, classificou a leucemia mieloide aguda (LMA) FLT3-ITD como risco intermediário independente da razão alélica ou presença concomitante de outras variantes. Os inibidores de FLT3 representam um avanço terapêutico guiado pela caracterização molecular da LMA, no entanto a aquisição de resistência terapêutica é um problema crescente a ser avaliado. Dito isto, objetivamos detectar processos biológicos relacionados à resposta diferencial aos inibidores FLT3. Para tal, 107 pacientes adultos de LMA FLT3-ITD com dados de RNAseq e os dados de resposta para tratamento ex vivo com quizartinib (n = 59), midostaurin (n = 64), sorafenib (n = 68), gilteritinib (n = 29) e crenolanib (n = 59) foram obtidos da coorte pública BeatAML 1.0. Os pacientes foram divididos, de acordo com a mediana de resposta ex vivo, em bons e maus respondedores. A análise de enriquecimento de conjuntos gênicos (GSEA) foi realizada comparando os grupos de resposta sobre conjuntos gênicos dispostos do banco de dados de assinaturas moleculares do BROAD Institute. Todas as análises foram realizadas utilizando R 4.3.1 e o RStudio. GSEA foi realizado utilizando o pacote fgsea, o teste exato de Fisher e o GSEA para amostra única (ssGSEA), foram realizados utilizando funções nativas, e, para representação gráfica, o pacote ggplot2 foi empregado. Os pacientes foram classificados como alta e baixa assinatura molecular de acordo com o escore de enriquecimento ssGSEA. A GSEA demonstrou que os pacientes LMA FLT3-ITD maus respondedores enriquecem assinaturas moleculares compatíveis com inflamação para todos os inibidores testados. A análise de associação envolvendo ssGSEA e resposta ex vivo indicou que os pacientes com altos escores ssGSEA relacionadas a respostas inflamatória e imune eram 89% menos prováveis a ocuparem o grupo de bons respondedores a quizartinib quando comparados aos pacientes com menores escores. O comportamento também foi observado para os programas moleculares de produção de citocinas inflamatórias e resposta imune inata, nos quais os pacientes eram, respectivamente, 93% e 84% menos prováveis em ocuparem o grupo dos bons respondedores. Isto também foi verdade para a resposta ex vivo a sorafenib, cujos pacientes portadores de altos escores associados aos mesmos programas moleculares inflamatórios foram 9 a 12 vezes mais prováveis de ocorrerem no grupo de má resposta. Midostaurin, crenolanib e gilteritinib não apresentaram associação significativa entre seus escores de ssGSEA e seus graus de resposta ex vivo. Embora, neste caso, todos os maus respondedores para inibidores de FLT3 enriqueçam programas moleculares relacionados à inflamação, apenas sorafenib e quizartinib exibiram associações do ponto de vista de amostra única. Isto pode ser explicado pela natureza das drogas, visto que ambos sorafenib e quizartinib são inibidores de FLT3 tipo II, logo apresentam particular afinidade a FLT3-ITD e efeitos biológicos potencialmente mais pronunciados, alternativamente à inespecificidade relativa encontrada nos inibidores de FLT3 tipo I como midostaurin, gilteritinib e crenolanib. As assinaturas moleculares inflamatórias estão associadas à resistência a inibidores de FLT3 nos pacientes FLT3-ITD mutados, sugerindo a inflamação como um mecanismo relevante de refratariedade. A inflamação, portanto, é um alvo digno de investigação como uma potencial maneira de remanejar as estratégias terapêuticas envolvendo inibidores específicos.