Revista de Estudos da Linguagem (Jul 2019)

Um estudo sobre o licenciamento e a interpretação de ‘pouco’ em português do Brasil (PB) / A survey on the licensing and the readings of “pouco” in Brazilian Portuguese (BP)

  • Ana Paula Quadros Gomes,
  • Juliana dos Santos Delduque

DOI
https://doi.org/10.17851/2237-2083.27.3.1489-1530
Journal volume & issue
Vol. 27, no. 3
pp. 1489 – 1530

Abstract

Read online

Resumo: Este artigo visa dar conta das condições de licenciamento e distribuição de “pouco” em PB, utilizando as ferramentas teóricas da semântica formal. Adotamos uma teoria de graus na linha de Kennedy e McNally (2005). Tratamos “pouco” como um modificador de graus do tipo redutor/minimizador, que realiza a mesma operação em todos os domínios: adjetival, verbal e nominal. Defendemos que os casos em que a inserção de “pouco” gera agramaticalidade (*“Falta pouco um mês para as férias”, *“Os poucos dois alunos vieram para aula”, *“Maria correu pouco uma maratona domingo” etc.) não são fruto de desrespeito a regras sintáticas, e sim à seleção-semântica (s-seleção). “Pouco” seleciona expressões graduáveis de escala aberta. No domínio adjetival, o efeito das escalas se dá no produto da modificação de “pouco”: o sintagma formado por redutor + adjetivo terá sempre escala aberta, independentemente do tipo de escala do adjetivo modificado. No domínio verbal, “pouco” opera sobre verbos inerentemente graduais e sobre dimensões aspectuais escalares. Mostraremos que sentenças com “pouco” em Sintagmas Verbais (SVs) só serão bem formadas quando for modificada uma escala de grau não-máximo. Em dimensões aspectuais, isso implica ou a atelicidade ou a imperfectividade do evento denotado pelo SV. No domínio nominal, “pouco” opera sobre nomes inerentemente graduáveis e sobre a dimensão de quantidade. Sintagmas Nominais (SNs) com leitura de cardinalidade vaga ou de volume apresentam escalas abertas. O tratamento que assumimos explica a interpretação dos sintagmas modificados pelo redutor e prevê com sucesso os contextos em que sua inserção gerará agramaticalidade. Palavras-chave: licenciamento e distribuição de “pouco”; semântica; advérbios intensificadores. Abstract: This article tackles the licensing and the distribution of “pouco” (BP), employing Formal Semantics theoretical tools. We adopt a degree semantics in the lines of Kennedy and McNally (2005). In our view, “pouco” is a degree modifier, a minimizer/diminisher, performing the same operation in the adjectival, verbal and nominal domains. We claim that the cases of ungrammaticality by the insertion of “pouco” (*“Falta pouco um mês para as férias”, *“Os poucos dois alunos vieram para aula”, *“Maria correu pouco uma maratona domingo” etc.) should not be attributed to syntactic rules, but to semantic selection (s-selection) instead. “Pouco” selects gradable expressions with open scales. In the adjectival domain, the scale effect appears on the modification product: the phrase containing “pouco” and the adjective will be always an open scale, regardless of the modified adjective scale type. In the verbal domain, “pouco” ranges over inherently gradable verbs or over aspectual scalar dimensions. We show that sentences with “pouco” in Verbal Phrases (VPs) are only well formed if the modified scale has a non-maximal degree. In aspectual dimensions, that means the atelicity or imperfectiveness of the event denoted by the VP. In the nominal domain, “pouco” modifies inherently gradable nouns and the quantity dimension. Noun Phrases (NPs) with vague cardinality or with a volume reading have open scales. Our approach explains the readings found in phrases modified by the minimizer and also successfully predicts in which contexts it will produce grammaticality. Keywords: licensing and distribution of “pouco” (Brazilian Portuguese); semantics; intensifiers.

Keywords