Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)

ESPOROTRICOSE DISSEMINADA EM REGIÃO NÃO ENDÊMICA - UM RELATO DE CASO

  • Danielle Rodrigues Alves,
  • Denise Botelho Macharet,
  • Maisa Maura de Oliveira,
  • Eduarda Duarte P. Natal,
  • João Pedro S.M.T. Ungaro,
  • Kevin G.S. Silva,
  • Luiza H.V. Cabral,
  • Izabela C.S. Santos,
  • Juliana C. Fenley

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102525

Abstract

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Introdução: A esporotricose é uma micose comum em regiões tropicais, causada por fungos do gênero Sporothrix, presentes no meio ambiente e transmitidos por inoculação traumática na pele por material contaminado e animais infectados, e mais raramente por inalação. Formas cutâneas são as mais comuns e costumam ter curso benigno, porém em imunossuprimidos podem ocorrer formas disseminadas e invasivas. Objetivo: O objetivo deste trabalho é relatar um caso de esporotricose disseminada em paciente imunodeprimido em região não endêmica -São José dos Campos-SP (SJC-SP). Método: Paciente homem, 48 anos, natural e procedente de SJC-SP, marceneiro, diabético de difícil controle, em outubro de 2022 notou nódulos subcutâneos em face anterior de antebraços e posteriormente dor e edema de punhos e joelho direito (D), sintomas para os quais lhe foi prescrito corticoide. Após 1 mês interna no Hospital Municipal de SJC-SP por poliartrite, febre e cetoacidose diabética (CAD). Análise de líquido sinovial de joelho D revelou 4000 células (84% linfomonocitárias) e cultura aeróbia negativa, tratado como artrite não-infecciosa com corticoterapia. Os nódulos subcutâneos ulceraram porém considerando a reversão da CAD recebeu alta. Retorna em 1 mês com exposição de tendões através das lesões em pulsos, perda de amplitude de movimentos de dedos de mão esquerda, mão caída a D e coleções profundas em membro inferior D delimitando trajeto linfático. Realizada biópsia em lesões de antebraços e em cultura para fungos neste tecido isolado Sporothrix sp, assim como em amostras coletadas em limpeza cirúrgica de coleções em perna D. Diante do diagnóstico lembrou-se de um episódio de poda de árvore em zona rural previamente ao início dos sintomas. Iniciado tratamento com itraconazol oral, vem em melhora progressiva das lesões e artrite porém mantendo mão D caída. Conclusão: Segundo Sampaio e Lacaz, esporotricose pode ser classificada em 4 categorias: cutâneo-linfática, cutânea, disseminada (cutânea e sistêmica) e extracutânea. O caso apresentado, apesar ter manifestado características das 4 categorias ao longo da evolução, foi considerado como disseminada, forma mais comumente relacionada a imunossupressão. Conclui-se que diabetes descompensado predispôs à apresentação disseminada (menos reconhecida) da esporotricose; por ter ocorrido em região não endêmica houve demora na suspeição clínica, morosidade diagnóstica, o que, associado à corticoterapia favoreceu comportamento invasivo da doença levando a sequelas funcionalmente graves.