Confluência (Oct 2023)
Uma análise discursivo-funcional da correção
Abstract
As atividades de processamento textual podem conter “problemas” de formulação e de continuidade, ao menos na concepção do próprio falante, passíveis, para ele, de reformulação, dentre os quais se incluem as correções. Há dois tipos de correção: a infirmação, que invalida completa ou parcialmente uma informação emitida no discurso precedente e a retificação, em que o Enunciado Fonte e o Reformulador seguem uma mesma direção semântica (FÁVERO; ANDRADE; AQUINO, 1999, p. 61). A Gramática Discursivo Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008) denomina tanto a correção retificadora quanto a infirmativa ora por Clarificação (“Clarification”) ora por Correção (“Correction”). O objetivo deste artigo é fazer uma descrição de dois tipos específicos de constituinte extraoracional na gramática do português falado, a correção e a clarificação, mediante procedimentos qualitativos de análise. Adota-se aqui a posição assumida por Giomi e Keizer (2020) de que esses constituintes são, na realidade, Atos Discursivos que exercem determinadas funções retóricas na superfície textual. Em atenção especial ao postulado funcionalista de que a análise deve debruçar-se sobre a língua em uso no contexto social, tanto quanto possível, aplica-se uma análise qualitativa, de caráter interpretativo, a dados obtidos do material coletado pelo Projeto da Norma Urbana Culta (NURC)/Brasil, tal como historiado por Castilho (1990). Os resultados apontam para o caráter sintaticamente frouxo desses constituintes em relação à estrutura da oração, que lhes permite aparecer em várias posições, repetidas ou não, da codificação morfossintática. Sugerimos, no final, que, na situação discursiva em que o Enunciado Fonte não esteja suficientemente especificado, a reformulação seja denominada Clarificação e, na situação de invalidação do Enunciado Fonte, a reformulação seja denominada Correção.
Keywords