Cadernos de Saúde (Dec 2010)

Profilaxia antibiótica

  • Carlos Vasconcelos,
  • António José Polónia

DOI
https://doi.org/10.34632/cadernosdesaude.2010.3020
Journal volume & issue
Vol. 3, no. Especial

Abstract

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A antibioterapia profiláctica tem como objectivo a prevenção da infecção através da administração de antimicrobianos. Há benefícios e prejuízos potenciais nesta atitude médica pelo que é imperiosa uma análise dos custos-benefícios envolvidos, que deve ter em conta factores como a gravidade da doença a prevenir, espectro de actividade do agente microbiano, indução de resistências, toxicidade, etc. Nesta exposição vamos debruçar-nos sobre a antibioterapia profiláctica da endocardite e em cirurgia relatando a experiência do Hospital de Santo António (HSA). Na endocardite as recomendações internacionais para administração de antibióticos tornaram-se mais selectivas tendo em conta que a bacteriemia resultante das actividades diárias tem maior probabilidade de causar endocardite infecciosa que a bacteriemia associada a procedimentos odontológicos e que apenas um número escasso de casos poderia ser prevenida pela profilaxia antibiótica mesmo que a profilaxia seja 100% efectiva. Quanto à infecção do local cirúrgico (ILC) trata-se de um problema importante, ocupando no HSA o terceiro lugar das infecções nosocomiais, a seguir à ITU e infecções respiratórias. Numa série de 15 000 intervenções registadas, a taxa de ILC registada até à data da alta hospitalar é de 3,36 %, sendo altamente provável a existência de subnotificação. O tipo de ILC mais frequente é superficial e os agentes microbianos mais comuns foram Staphylococus aureus meticilina resistente e Escherichia coli. A apendicectomia e o desbridamento de feridas / abcessos foram os actos cirúrgicos que mais contribuíram para a ILC. A estratégia seguida, em 1995, pelo HSA para antibioprofilaxia cirúrgica foi a de seguir as Recomendações da “Surgical Wound Task Force Guidelines for Prevention of Surgical Wound Infeccion” e do “Center Disease Control”, numa iniciativa do grupo de antimicrobianos da Comissão de Farmácia e Terapêutica, com o apoio da Administração e o envolvimento de vários especialistas. Numa avaliação global da adesão às recomendações publicadas constatamos que ultrapassou os 60 % a sua utilização correcta, em cirurgia limpa sem uso de próteses. Dos restantes, cerca de 30 % não fez antibiótico profiláctico e apenas 6 % o fez inadequadamente sendo registada a intenção terapêutica. Esta última percentagem aumenta para o dobro nas cirurgias limpo-contaminadas, contaminadas e conspurcadas, assim como na cirurgia de urgência. A experiência do HSA permite-nos afirmar que o cumprimento de um protocolo de antibioprofilaxia em cirurgia pode ser conseguido com o envolvimento desde o início, no processo, das pessoas responsáveis e com medidas de controlo eficazes e de fácil aplicação.

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