Revista de Filosofia (May 2011)

Supereu: inquilino do eu

  • Maria Vilela Pinto Nakasu

DOI
https://doi.org/10.7213/rfa.v23i32.1786
Journal volume & issue
Vol. 23, no. 32
pp. 183 – 200

Abstract

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O processo de elaboração das concepções metapsicológicas na obra de Freud não é linear, mas repleto de oscilações, idas e vindas, abandonos temporários, ambiguidades, contradições. Dentre os conceitos-chave da metapsicologia, o de supereu é certamente um conceito de difícil apreensão, complexo, pois são numerosas suas definições e extremamente amplo o seu alcance: da clínica para a metapsicologia, passando pela teoria da cultura, o supereu atua em todos os âmbitos da investigação psicanalítica, deixando entrever inúmeros mal-entendidos por parte de seus comentadores. Soma-se a isso o fato de Freud não ter sido um fiel historiador de seus conceitos. Este trabalho se propõe a desfazer algumas ambiguidades em relação ao processo de evolução da concepção de supereu a partir de um problema metapsicológico fundamental, a saber, a reformulação da noção de eu. Sustentaremos que as transformações na teoria do eu foram cruciais para a elaboração das bases conceituais do supereu em sua função legisladora. Veremos que o supereu inicia sua história como um discreto inquilino do eu para se tornar inquilino usurpador e tirânico, que ameaça a integridade euoica.