Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Mar 2008)
Prevenção da transmissão vertical do HIV: atitude dos obstetras em Salvador, Brasil Prevention of HIV vertical transmission: obstetricians'atitude in Salvador, Brasil
Abstract
OBJETIVO: avaliar as atitudes e conhecimento dos obstetras das maternidades públicas da cidade de Salvador (MPS) sobre as recomendações do Ministério da Saúde para a profilaxia da transmissão vertical do vírus humano da imunodeficiência (HIV) e terapia antiretroviral em gestantes. Avaliou-se também a influência das condições de trabalho, disponibilidade da testagem rápida e da terapia antiretroviral em relação à aplicação destas recomendações. MÉTODOS: realizou-se um estudo de corte transversal entre agosto e novembro de 2005, envolvendo 129/152 (85%) dos obstetras de todas as MPS. Utilizou-se como instrumento um questionário anônimo, estruturado e auto-explicativo, com questões sobre as características da população, condições de trabalho e disponibilidade de insumos, conhecimento e atitudes relacionadas ao aconselhamento e testagem para o HIV e condutas com as pacientes (uso da zidovudina (AZT), reconhecimento de fatores de risco, escolha e manejo da via de parto e cuidados no puerpério). RESULTADOS: dos obstetras, 69% referiram conhecer integralmente as recomendações do Ministério da Saúde; 90,7% concordaram com a solicitação compulsória da testagem rápida para o HIV; 63,6% escolheram a cesariana para via de parto; 38% contra-indicaram o parto por via vaginal; 37,5% recomendaram isolamento das pacientes soropositivas e 58,1% indicaram laqueadura tubária. A maioria (90%) dos sujeitos referiram a existência de fatores prejudiciais à aplicabilidade das recomendações, sendo que os mais apontados foram a realização inadequada e a indisponibilidade das informações do pré-natal na admissão. Embora a testagem rápida estivesse disponível, apenas um terço dos entrevistados afirmou que o resultado estava sempre disponível em tempo hábil. CONCLUSÕES: algumas atitudes relacionadas à assistência à gestante com HIV foram discordantes das recomendações do Ministério da Saúde. Na opinião dos entrevistados a inadequação do pré-natal e a indisponibilidade do resultado da testagem rápida influenciam negativamente na aplicação das recomendações para profilaxia da transmissão vertical do HIV.PURPOSE: to evaluate the attitudes and knowledge of obstetricians from public maternities in Salvador city (PMS) about the recommendations from the Health Ministry (HM) for the prophylaxis of vertical transmission of HIV (VTH) and antiretroviral therapy in pregnant women. The influence of working conditions, availability for quick testing and antiretroviral therapy has also been evaluated concerning the application of these recommendations. METHODOLOGY: a transversal study from August to November 2005, involving 129/152 (85%) of the obstetricians from all the PMS. The instrument used was a structured and self-explanatory anonymous questionnaire, with questions on the population characteristics, working conditions and availability of material, knowledge and attitudes related to HIV counseling and testing, and proceedings with the patients (use of AZT, recognition of risk factors, choice and management of type of delivery and puerperal care). RESULTS: 69% of the obstetricians stated they knew integrally the HM recommendations, 90.7% agreed with the compulsory request of quick testing for HIV; 63.6% chose the caesarean section as the type of delivery; 38% were against normal delivery; 37.5% recommended isolation of positive serum patients and 58.1% indicated tubal ligation. Most of them (90%) mentioned the existence of factors unfavorable to the recommendations applicability, and among those factors, the most pointed were the inadequate way the pre-natal admission was done and the lack of information at that occasion. Even though the quick testing was available, only one third of the interviewees stated that the result was always available in due time. CONCLUSIONS: some attitudes related to the assistance to the pregnant women with HIV were incompatible with the HM recommendations. According to the interviewees, the inadequacy of the pre-natal plus the non-availability of quick testing, influence negatively the applicability of VTH prophylaxis recommendations.