Revista Brasileira de Ciência do Solo (Apr 2010)

Solos da área indígena Yanomami no médio Rio Catrimani, Roraima Soils in the Yanomami indigenous area in the mid-Catrimani River - Roraima

  • Valdinar Ferreira Melo,
  • Marcio Rocha Francelino,
  • Sandra Cátia Pereira Uchôa,
  • Samara Salamene,
  • Célida Socorro Vieira dos Santos

DOI
https://doi.org/10.1590/S0100-06832010000200022
Journal volume & issue
Vol. 34, no. 2
pp. 487 – 496

Abstract

Read online

Em Roraima, a distribuição espacial das populações indígenas identifica um cenário de busca constante de solos capazes de sustentar uma agricultura itinerante. Este trabalho teve como objetivo estabelecer relação entre a compreensão dos solos por parte dos Yanomami da região do médio Catrimani e o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, bem como avaliar o seu tipo de uso em função de análises químicas para diagnóstico da fertilidade do solo. O trabalho foi executado em duas etapas. A primeira consistiu em visitas a oito malocas para estudar os solos. Foram coletadas amostras em trincheiras até 1,50 m de profundidade para análise e classificação dos solos e (em prospecções com o trado) nas profundidades de 0-10 a 10-30 cm, em 21 tipos de uso agrícola, e da área de floresta para análises químicas de fertilidade. A segunda fase foi uma oficina, abordando os sistemas de exploração agrícola, com duração de 20 h. Focalizou-se a discussão sobre a compreensão do meio ambiente (Urihi)(1) e sistemas de produção agrícolas e sobre a importância do uso correto do conhecimento dos solos. Os solos são denominados pelos Yanomami em função das características morfológicas, pelos teores de matéria orgânica e pela presença de minhocas, e da posição na paisagem - a escolha para agricultura é fundamentada nessas características. As práticas agrícolas consistem da derrubada da mata nativa, queima e plantio das culturas em separado. Os solos descritos na área foram: Argissolo Vermelho-Amarelo (Maxita a uuxi wakë axi), Argissolo Amarelo (Maxita a axi), Latossolo Amarelo (Maxita a axi) e Plintossolo (Maxita a axi a maamaxipë). O processo de derruba e queima promove um incremento inicial do teor de Ca e K trocáveis e P assimilável devido à contribuição das cinzas, o que permite a exploração das áreas por um período máximo de três anos.In Roraima, the spatial distribution of indigenous peoples indicates a background of constant search for soils capable of sustaining shift cultivation. This study aimed to establish a relationship between the understanding of soil by the Yanomami tribe from the mid-Catrimani river region and the Brazilian System of Soil Classification and evaluate the type of agricultural land use according to soil fertility tests, in two steps. The first consisted of visiting eight Indian communities to collect soil samples at 21 sites with different types of agriculture and forests, both from profile soil (depth 0-1.50 m) and pits (depth 0-0.1 m and 0.1-0.3 m) for laboratory analysis. The second step was a workshop addressing the shift cultivation systems (duration 20 h). The discussion focused on the understanding of the environment (Urihi) and agricultural production systems, and on the importance of the correct use of knowledge of the soil and its fertility. Soils are named according to their morphology and position in the landscape by the Yanomami. The choice of agricultural areas is based on these features, aside from the organic matter content and the presence of earthworms. Agricultural practices comprise clearing and burning of the native forest immediately before planting a set of separate crops. The soils described in the area were classified according to the Brazilian taxonomic system as follows: Red Yellow Argisol (Maxita a uuxi wake axi), Yellow Argisol (Maxita a axi) Yellow Latosol (Maxita a axi) and Plintosol (Maxita a axi a maaxipé). Slashing and burning initially increases exchangeable Ca, K and available P due to the contribution of the ashes, which allows an agricultural exploitation of these areas for a maximum period of three years.

Keywords