Tempo Social (Apr 2003)

Sobre a sustentabilidade das associações voluntárias em uma comunidade de baixa renda

  • Augusto Souto-Maior Fontes

DOI
https://doi.org/10.1590/S0103-20702003000100009
Journal volume & issue
Vol. 15, no. 1
pp. 159 – 189

Abstract

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Este artigo tem por objetivo analisar a relação entre o desenho das redes egocentradas de uma comunidade de baixa renda e os prováveis efeitos sobre o desempenho das associações voluntárias (associações de moradores e organizações não-governamentais) do bairro. Perguntamo-nos sobre que fatores poderiam explicar o fato de alguns moradores passarem do papel de simples consumidores de serviços oferecidos pelas organizações do bairro para o de participantes na gestão dessas entidades. Maior ou menor engajamento na participação em associações voluntárias freqüentemente tem sido explicados ou por características psicossociais dos participantes (que resultaria em níveis diversos de motivação), ou em características oriundas de atributos individuais (sexo, idade, estado civil, renda etc.). Penso que características do desenho das redes egocentradas (centralidade, multiplexidade, predominância de relações fracas ou fortes, territorialidade dos laços sociais etc.) são também elementos importantes a serem considerados. Admitimos, portanto, que a sustentabilidade de uma organização comunitária - isto é, o fato de essas organizações terem um forte apoio da comunidade - seria em parte função da estruturação das redes de seus participantes. Essas hipóteses são testadas empiricamente a partir de informações extraídas das redes egocentradas de habitantes da Comunidade de Chão de Estrelas, em Recife. Foram aplicados 250 questionários, a partir de amostra aleatória simples de um universo de 1.131 domicílios.To analyze the relationship between the format of the networks of a low-income community and the probable effects on the performance of district voluntary associations (community groups and NGO' s). How can we explain why some inhabitants start as simple consumers of the services offered by the district associations to later become participants in the management of those organizations. The explanation for the amount of involvement in these voluntary groups has frequently been attributed to, either psychosocial features of the people taking part (which would lead to different levels of motivation) or to characteristics to do with individual attributes (sex, age, marital status, income, etc.). I argue that features concerning the networks' design (centrality, multiplexity, predominance of strong or weak relations, territoriality of social ties, etc.) are also important elements to be taken into consideration. Thus, the sustainability of a community organization - i.e. the fact that these organizations have a strong support from the community - would in part be due to the structuring of the participant network. These hypotheses are tested empirically based on the information extracted from the networks of inhabitants of the Comunidade Chão de Estrelas, in Recife. Two hundred and fifty questionnaires were applied, on a random sample from a total of 1131 households.

Keywords