Revista Geographia (Jun 2020)

PENSANDO GEOGRAFICAMENTE: O CAPITALISMO GLOBALIZANTE E ALÉM

  • Eric Sheppard

DOI
https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2020.v22i48.a43101
Journal volume & issue
Vol. 22, no. 48

Abstract

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Resumo: No espírito de fortalecer seus fundamentos intelectuais e esclarecer suas contribuições para dar sentido ao mundo, devemos resistir a qualquer inclinação a tratar a geografia como um clube — uma disciplina com fronteiras a serem policiadas e defendidas. Advogo pelas forças de se pensar geograficamente, uma maneira de ser no mundo aberta a todos. Isso significa lidar com a geografia da produção de conhecimento; com como as espaço-temporalidades moldam e são moldadas por processos socionaturais; com o mundo mais-que-humano emergente; com a variedade de ontologias, epistemologias e metodologias que estão na base das alegações de conhecimento; e com o mundo não só como ele é, mas também como pode ser. Pensar geograficamente sobre o capitalismo globalizante permite problematizar as posicionalidades socioespaciais particulares a partir das quais houve a metástase dos entendimentos de senso comum sobre o capitalismo. A Europa não inventou as práticas capitalistas, mas se tornou o centro de cálculo do capitalismo globalizante, catalisado pelas dinâmicas espaciais do colonialismo que a fizeram ascender em relação a seus predecessores. Pensar geograficamente mina as considerações convencionais sobre o capitalismo globalizante que emanam da Europa, que se referem a uma maré crescente capaz de levantar todos os barcos e trazer prosperidade a todos os indivíduos responsáveis e que trabalham duro e a todos os territórios bem governados. Na verdade, essas considerações fundadas no corpo e no lugar obscurecem o modo pelo qual as conectividades assimétricas entre os lugares e as dinâmicas interescalares, que co-evoluem com o desenvolvimento geográfico desigual, coproduzem uma posicionalidade socioespacial e condições de possibilidade desiguais para aqueles que propagam ou se deparam com o capitalismo globalizante. O capitalismo também não pode ser compreendido, ou praticado, simplesmente como um processo econômico; seus aspectos econômicos estão co-implicados com processos políticos, culturais (de gênero, raciais etc.), sociais e biofísicos, de maneiras que repetidamente superam e enfraquecem quaisquer “leis da economia”. Pensar geograficamente torna necessário conceder espaço para trajetórias e experiências alternativas e mais-que-capitalistas, enriquecidas por experiências periféricas do capitalismo globalizante e por encontros com ele na periferia.