Revista Brasileira de Geomorfologia (Oct 2018)
O PAPEL DOS PROCESSOS FLUVIAIS NA CONFIGURAÇÃO DE FUNDOS DE VALE NA BACIA DO RIO PARAÚNA – SERRA DO ESPINHAÇO MERIDIONAL, SUDESTE DO BRASIL
Abstract
Este trabalho investiga o papel dos eventos geomorfológicos fluviais na configuração do relevo da bacia do Rio Paraúna ao longo do Quaternário, enfocando a configuração dos fundos de vale. Na área investigada, os fundos de vale geralmente possuem dois ou três níveis deposicionais aluviais (planície de inundação – PI; e terraços – N1 e N2), sendo comum que as PI os N1 encontrem-se embutidos ou encaixados em relação aos níveis mais antigos e escalonados em relação aos níveis em contexto de vertente. O quadro geológico-geomorfológico e as características cronoestratigráficas dos depósitos, cuja datação foi realizada utilizando a metodologia da Luminescência Opticamente Estimulada (LOE), sugerem que, ao longo do Pleistoceno e de grande parte do Holoceno, os vales evoluíram em ciclos alternantes de sedimentação e encaixamento da drenagem. Contudo, o final do Holoceno tem sido marcado pela estabilização do nível de base regional representado pelo Rio Paraúna e pela alteração na dinâmica hidrossedimentar, que tem proporcionado a formação de planícies embutidas nos terraços. As idades dos depósitos obtidas com a datação por LOE permitem supor que as PI correspondem a um evento de sedimentação regional, associado à dinâmica fluvial atual. As PI possuem idades que variam 270 (± 60) e 170 (± 25) anos. Os N1 também parecem estar associados a um evento de sedimentação de escala regional, com uma dinâmica hidrossedimentar diferente da atual, cujas idades variam entre 1.480 (± 250) e 590 (± 110) anos. Os N2 apresentaram idades bastante divergentes. No Córrego da Sepultura, a idade obtida é de 26.350 (± 4.470), tornando esse o N2 mais antigo da área investigada. Nos demais vales, as idades variaram entre 3.000 (± 490) e 4.200 (± 480) anos. Considerando esses dados, pode-se supor que a formação dos N2 ocorreu através da instalação de eventos de sedimentação de escala local, afetando cada vale em momentos distintos. Portanto, é possível propor que a evolução dos vales pode ser dividida em duas fases. A fase mais antiga, que compreende o final do Pleistoceno e o início do Holoceno, provavelmente foi marcada pela instabilidade neotectônica, expressa em uma dinâmica de blocos mais intensa, permitindo a instalação de eventos erosivo-deposicionais distintos em cada vale. A fase mais recente, representada pelos últimos 2.000 anos, deve ter sido marcada pela menor movimentação de blocos no interior da Serra do Espinhaço Meridional, o que pode ter permitido a estabilização do nível de base regional e a regularização de grande parte dos perfis longitudinais dos cursos fluviais.
Keywords