Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)
USO DE TRATAMENTO A VÁCUO EM PACIENTE VÍTIMA DE ACIDENTE OFÍDICO NO EXTREMO NORTE DO BRASIL: UM RELATO DE CASO
Abstract
O ofidismo é considerado um importante problema de saúde pública, sendo classificado pela Organização Mundial da Saúde como uma Doenças Tropical Negligenciada (NTD) de Categoria A. No Brasil, os casos se concentram na região Norte, tendo Roraima e Amazonas como as maiores incidências de envenenamentos ofídicos. Ainda, este agravo tem gerado altos custos para a saúde pública do país, uma vez que muitos apresentam alta gravidade, necessitando de procedimentos e tratamentos prolongados que culminam em muitos dias de internação. Este estudo relata um caso de vítima de acidente ofídico em indivíduo de 28 anos do sexo masculino, cujo acidente botrópico ocorreu no dia 26/04/2023 (dia 0) às 18h em membro inferior direito (pé). O paciente foi admitido no Hospital geral de Roraima Rubens de Souza em Boa Vista (RR) às 23h do mesmo dia, com queixa de dor de intensidade 10/10, edema extenso e gengivorragia, classificando o acidente como grave. Logo após a avaliação, o paciente recebeu 12 ampolas de soro antibotrópico (SAB). Nos 5 primeiros dias de internação, o paciente evolui com dor, equimose e febre, mesmo em uso de Amicacina e Piperacilina + Tazobactam, sem sucesso terapêutico, apresentando edema com sinais de piora com rubor significativo. Aos exames laboratoriais, apresentou-se com leucocitose, PCR elevado e incoagubilidade. A partir desses dados, o paciente foi encaminhado no dia 02/05/2023 (dia 7) para cirurgia de fasciotomia e desbridamento extenso, na qual ocorreu instabilidade hemodinâmica (choque hipovolêmico) com internação na UTI por 3 dias. No dia 08/05/2023 (dia 13) foi instalada a terapia inovadora com curativo à vácuo, buscando redução do tempo de internação, aceleração da cicatrização, angiogênese e redução de infecção. O tratamento com o curativo também é capaz de drenar o excesso de exsudato e reduzir o líquido intersticial, com trocas semanais. O paciente manteve-se com curativo a vácuo até o dia 23/05/2023 (15 dias de uso), demostrando rápida granulação tecidual e evolução satisfatória. Posteriormente, passou a utilizar curativo diário com colagenase a cada 12 horas. No dia 12/06/2023 (dia 44) realizou enxertia. O paciente evoluiu bem, sendo realizados apenas curativos simples após enxertia. No dia 26/06/2023 (60 dias após o acidente), o paciente teve alta com orientações de acompanhamento ambulatorial e de cuidados da ferida.