Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
USO DOS MARCADORES CD2 E CD25 POR CITOMETRIA DE FLUXO NO DIAGNÓSTICO DAS SÍNDROMES DE MASTOCITOSE SISTÊMICA
Abstract
Introdução: A Mastocitose Sistêmica (MS) é um grupo heterogêneo de doenças caracterizado pela proliferação anormal e acúmulo excessivo de mastócitos em um ou mais órgãos. A pele é mais frequentemente acometida e os sintomas sistêmicos que ocorrem pela liberação de mediadores químicos ou decorrentes de infiltração orgânica. A morfologia da medula óssea mostra mastócitos com morfologia atípica (núcleo ovalado, formato alongado ou disformes, relativamente hipogranulares). A citometria de fluxo multiparamétrica (CFM) identifica e quantifica os mastócitos anormais pela forte positividade do marcador CD117, expressão de CD203 e autofluorescência, e expressão anômala dos antígenos CD2, CD25 e CD59. Para o diagnóstico é necessária a presença de mastócitos anormais em biópsia tecidual, associados a um critério menor [morfologia atípica no mielograma, CD2 e/ou CD25 positivo na CFM, mutação 816V no C-kit e aumento da triptase sérica], ou três critérios menores. A MS é dividida em MS indolente (MSI) e MS associada a outras doenças hematológicas clonais (MS-DHC). Além dessas subclassificações, há ainda a Leucemia Mielomastocítica Aguda (LMMA), grupo extremamente raro de neoplasias caracterizadas pela presença de blastos com diferenciação mielomastocitária. Objetivo: Reportar casos de mastocitose para melhorar o entendimento da fisiopatologia e apresentação clínica deste grupo de doenças. Métodos: Análise retrospectiva de 24 casos de MS e 3 LMMA avaliados entre 2018 e 2023 na base de dados do laboratório, e comparação dos achados morfológicos e imunofenotípicos entre os pacientes com os dois tipos de mastocitose (MSI e MS-DHC). MSI (n = 13), idade 64 anos (19-76), sendo 5 com medula hipercelular/eosinofilia e 8 com medula hipocelular; todas apresentam mastócitos atípicos e granulação aumentada nos granulócitos, aumento de eosinófilos e basófilos. Clinicamente foi reportada anemia ou mielodisplasia prévia em 5 casos, esplenomegalia em 4, e evolução para mastocitose agressiva em 3. MS-DHC (n = 9), idade 62 anos (41-77), sendo 2 LMA t(8;21), 2 LMA relacionadas a mielodisplasia, 2 SMD-EB2, 2 SMD hipoplásicas e uma ARSA, todos com displasia intensa nas três séries hematopoéticas e percentuais variados de blastos e mastócitos anormais. 3 LMMA, idade entre 16 e 58 anos; dois com t(8;21) e uma LMA M4 associada a SMD. Resultados: O percentual mediano de mastócitos na MSI foi de 0,15% (0,03 a 2,5%), semelhante ao reportado na literatura em mastocitose e controles normais. Já no grupo MS-DHC a mediana de mastócitos anômalos foi maior (0,7%, variando de 0,4 a 5,6%), com alterações displásicas mais frequentes. O percentual de células precursoras com diferenciação mieloide CD34+ foi 0,6% (0,1% a 0,85%) nas MSI, enquanto em MS-DHC a mediana foi 7,0% (1,5% a 26,4%). Em relação ao imunofenótipo, todos casos de MSI tinham CD25 positivo forte nos mastócitos, e 10 de 13 casos tinham CD2 expresso (CD25++CD2+). No grupo MS-DHC o CD25 foi fortemente expresso em 8 de 9 casos, porém o CD2 foi negativo/fraco em todos os casos (CD25++CD2- ou fraco). Já os casos de LMMA de novoapresentaram uma alta percentagem de mastócitos anormais (entre 4 e 23%), os quais foram considerados como blastos com diferenciação mastocitária (CD117++, CD203+, HLA-DR fraco), porém todos apresentaram CD2 e CD25 negativos/fracos. Conclusão: Apesar de não dispormos no serviço dos exames de dosagem da triptase ou mutação do cKit, consideramos que a presença de mastócitos fenotipicamente anormais na CFM associados a morfologia atípica são altamente sugestivos da doença. Assim, a expressão dos marcadores CD2 e CD25, o percentual de mastócitos anômalos e blastos, e história prévia de displasia medular são de grande auxílio no diagnóstico diferencial entre os subtipos de mastocitose sistêmica.