Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DENGUE GRAVE COM HEPATOPATIA TRANSITÓRIA E ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE EM PACIENTE PORTADOR DE HEMOGLOBINOPATIA SC: RELATO DE CASO

  • ACS Santos,
  • SSS Araújo,
  • MGM Freitas,
  • LB Anastácio

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S73

Abstract

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Introdução: A dengue é uma doença viral que pode causar desde formas assintomáticas até quadros graves com risco de morte. A hepatopatia transitória (HPT) é uma manifestação rara da dengue grave que se caracteriza por elevação das enzimas hepáticas e da bilirrubina direta. A anemia hemolítica autoimune (AHA) é uma complicação imunológica que pode ocorrer em pacientes com dengue e se manifesta por hemólise intravascular, Coombs direto negativo e haptoglobina indetectável. As hemoglobinopatias, como a HbSC, podem predispor à anemia hemolítica em pacientes com dengue, devido à fragilidade dos eritrócitos. Objetivo e método: Relatar um caso de dengue grave com HPT e AHA em um paciente portador de HbSC, diagnosticado segundo os critérios da Organização Mundial da Saúde. A metodologia utilizada foi a análise de prontuário médico hospitalar. Caso clínico: Paciente EEDS, 31 anos, portador de HbSC, sem acompanhamento, internado com quadro de 5 dias de evolução de mialgia, artralgia, dor abdominal e febre (38,9°C). Realizado teste de Dengue NS1 com resultado reagente. Exames laboratoriais iniciais com elevação de AST (1078 U/L), ALT (654 U/L), bilirrubinemia à custa de direta (2,5 mg/dL) e CPK (2369 U/L). Encaminhado da cidade de origem devido à HPT. Paciente evoluiu ao longo de 10 dias com queda importante da hemoglobina (13 g/dL > 7 g/dL) sem sinais de exteriorização. Exames mostraram desidrogenase lática de 7295 U/L, haptoglobina consumida, Coombs direto não reagente e reticulocitose (9%). Exames indicaram AHA. Paciente evoluiu com melhora progressiva do quadro com hidratação venosa, uso de ácido fólico (devido a sinais de hemólise) e suporte clínico. Discussão: Este caso destaca a ocorrência incomum de duas complicações graves da dengue em um paciente com hemoglobinopatia HbSC. A hepatopatia transitória (HPT) pode ser atribuída à ação viral direta nos hepatócitos ou à resposta inflamatória generalizada, que leva à liberação de citocinas pró-inflamatórias e à ativação do sistema imune inato. A anemia hemolítica autoimune (AHA) pode ter sido desencadeada pela formação de anticorpos contra antígenos eritrocitários alterados pelo vírus ou pela ativação do sistema complemento, que causa lise dos eritrócitos. A presença da hemoglobinopatia HbSC intensificou a gravidade da anemia devido à fragilidade dos eritrócitos falciformes, que são mais propensos à lise. Estudos anteriores relataram casos de dengue com AHA em pacientes com outras hemoglobinopatias, como a talassemia e a esferocitose hereditária. A associação entre dengue, AHA e hemoglobinopatias é corroborada por estudos epidemiológicos que mostram uma maior prevalência de anemia em áreas endêmicas de dengue. A complexidade do quadro clínico foi influenciada pela interação entre os elementos virais, imunológicos e genéticos, que determinaram a suscetibilidade e a resposta do hospedeiro à infecção. Esse relato de caso tem como implicaçoes clínicas o reconhecimento precoce das complicações, o monitoramento dos parâmetros hematológicos e hepáticos, a vacinação contra a dengue e o uso de medidas terapêuticas em casos graves. Conclusão: A dengue grave pode se manifestar com HPT e AHA, que são complicações potencialmente fatais. Os pacientes com hemoglobinopatias podem ter um maior risco de desenvolver anemia hemolítica em casos de dengue. É importante o reconhecimento precoce dessas situações e o manejo adequado dos pacientes, pois podem impactar na evolução clínica e no prognóstico dos casos.