Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE POR ANTICORPOS A FRIO EM PACIENTE COM INFECÇÃO POR PARVOVÍRUS B19: RELATO DE CASO

  • MZ Rodrigues,
  • ESM Almeida,
  • IV Bastos,
  • JPO Gomes,
  • WO Santos,
  • DFB Rêgo,
  • GP Gutierres,
  • MPP Oliveira,
  • SMCBP Jesus,
  • AB Rassi

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S963 – S964

Abstract

Read online

Introdução: A infecção pelo parvovírus B19 causa em crianças sintomas leves na maior parte dos casos, como rash, febre e cefaleia, e, em adultos, pode causar rash e artralgia. Em raros casos, tal infecção pode causar um quadro mais grave denominado aplasia pura de série vermelha (APSV) em que o parvovírus ataca diretamente os precursores eritroides causando sua destruição e, portanto, anemia. De forma ainda menos usual, há alguns poucos relatos na literatura de anemia hemolítica autoimune (AHAI) associada a APSV em pacientes com infecção pelo Parvovírus B19. Relato de caso: Homem de 40 anos, busca atendimento por quadro de astenia, taquicardia e icterícia há 1 dia. Relata que após infecção recente por COVID-19 apresentou quadro de poliartralgia migratória tratada com prednisona 40 mg por 30 dias, já em desmame. Ao exame físico, paciente se apresentava hipocorado (2+/4+) e ictérico (1+/4+), sem outras alterações dignas de nota. Exames laboratoriais evidenciaram: bilirrubina indireta 2,6 mg/dL; haptoglobina < 3 mg/dL; reticulócitos iniciais 21.500/mm3; TAD fracamente positivo IgG+C3d; crioaglutininas positivo (até 1/32). Realizada avaliação medular com mielograma que evidenciou alterações displásicas da série eritroide e granulocítica; ademais, o PCR para parvovírus B19 no aspirado medular veio positivo e a sorologia IgG positivo e IgM negativo para parvovírus. A biopsia de medula óssea não foi bem sucedida por dificuldades técnicas. Demais pesquisas infecciosas vieram negativas (EBV, CMV, HIV, hepatites B e C, culturas para fungos e bactérias). Tais alterações levaram ao diagnóstico de um raro quadro de AHAI a frio secundária a infecção por parvovírus B19 com quadro subjacente de APSV, justificando uma contagem inicial baixa de reticulócitos para um quadro de hemólise. Foi iniciado pulsoterapia com metilprednisolona e ácido fólico diário. O paciente não evoluiu com boa resposta a corticoterapia e foi então optado por tratamento com 4 doses semanais de rituximabe 375 mg/m2. Paciente teve resposta completa ao tratamento, com normalização dos níveis hematimétricos após 2 meses do término das doses de rituximabe. Discussão: O parvovírus B19 é um vírus DNA que possui tropismo pelas células progenitoras eritoides, onde faz sua replicação viral, determinando inibição da eritropoiese, além de efeitos citotóxicos. A infecção pelo parvovírus B19 pode se manifestar de forma assintomática ou com sintomas leves e inespecíficos. Em casos mais raros, possui clínica mais exuberante, com a apresentação de eritema infeccioso, artropatia, aplasia pura de células vermelhas, crise aplástica transitória (CAT), entre outras. O presente caso relata uma complicação rara e grave da infecção pelo parvovírus B19, com poucos relatos dessa apresentação clínica na literatura médica atual: APSV associada a AHAI secundária a infecção pelo parvovírus B19. O tratamento envolve medidas clínicas de suporte para a infecção pelo parvovírus que tende a ser autolimitada, porém exige manejo imediato devido à AHAI. É bem descrito na literatura a boa resposta das AHAIs a frio a tratamento com rituximabe, bem como visto no caso relatado. O caso descrito ressalta a relevância de investigação minuciosa com extensa pesquisa de agentes causadores e de inventário medular em casos de anemia hemolítica com apresentação atípica.