Revista Brasileira de Educação Médica ()

Burnout e depressão em residentes de um Programa Multiprofissional em Oncologia: estudo longitudinal prospectivo

  • Ismar Lima Cavalcanti,
  • Fernando Lopes Tavares de Lima,
  • Telma de Almeida Souza,
  • Mario Jorge Sobreira da Silva

DOI
https://doi.org/10.1590/1981-52712018v42n1rb20170078
Journal volume & issue
Vol. 42, no. 1
pp. 190 – 198

Abstract

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RESUMO A residência multiprofissional é uma modalidade de especialização lato sensu que se caracteriza pelo treinamento em serviço. A escassa experiência profissional prévia, a extensa carga horária do programa e o duplo papel do estudante-trabalhador podem levar o residente ao adoecimento. O objetivo deste estudo foi analisar a ocorrência de síndrome de burnout e de depressão entre residentes de um programa multiprofissional em oncologia. Trata-se de estudo prospectivo longitudinal com 46 residentes de um programa de residência multiprofissional em oncologia. Foram utilizados três instrumentos de coleta de informações: um para identificar características sociodemográficas e afastamentos por motivos de saúde; o Maslach Burnout Inventory; e, o Inventário de Depressão de Beck. Os instrumentos de coleta de dados foram aplicados, nos mesmos participantes do estudo, em 3 momentos ao longo de dois anos: no início, no final do primeiro e do segundo ano da residência. Os resultados referentes às características sociodemográficas, à intensidade das três dimensões do burnout, à frequência da síndrome de burnout e à frequência e intensidade da depressão foram analisados por estatística descritiva. O teste exato de Fisher foi aplicado para análise de correlação entre as variáveis relacionadas aos hábitos pessoais e aos afastamentos por motivos de saúde com a presença de síndrome de burnout ou de depressão. Os scores dos três aspectos do burnout e da depressão nos 3 momentos estudados foram comparados utilizando o teste de Wilcoxon. Ao final do estudo identificou-se que 75,0% dos participantes apresentaram síndrome de burnout e 72,5% tiveram algum nível de depressão. Quanto aos componentes do burnout, houve aumento dos scores de exaustão emocional e baixa realização pessoal. Também houve aumento da frequência e da intensidade de depressão. Observou-se correlação positiva entre afastamento por motivos de saúde e presença de burnout e entre ocorrência de síndrome de burnout e casos de depressão. A síndrome de burnout esteve correlacionada com ocorrência de depressão e ambos os problemas tiveram aumento significativo ao longo do programa de residência. Os achados apontam para a gravidade do problema, considerando que ambas as condições apareceram no primeiro ano de curso. Estratégias para prevenção e controle são necessárias, a fim de minimizar as consequências na aprendizagem, na qualidade de vida dos residentes e na assistência prestada aos pacientes com câncer.

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